Estava deitado em um leito de hospital quando ouvi a conversa entre uma técnica de enfermagem e uma paciente.
O assunto era choro.
A profissional dizia que, às vezes, acordava com vontade de chorar, sem motivo aparente.
— Alguma coisa aconteceu? — perguntei, curioso.
Ela balançou a cabeça.
— Não faço ideia. Simplesmente acontece.
Pensei nas pressões que a vida moderna impõe. Ela trabalha 44 horas por semana. Nos domingos e feriados, faz plantão no home care. Sem folga para descansar, sem tempo sequer para pensar em chorar.
— Mas você chora? — insisti.
Ela sorriu, cansada.
— Descobri que o choro é meu escape. Diante das queixas das pacientes encontro o momento certo para desabafar. Não me sinto pressionada no trabalho, mas as pressões estão ali. E o choro as leva embora.
E, ao dizer isso, seus olhos ficaram úmidos.
Fiquei em silêncio.
Talvez chorar seja mesmo uma necessidade.
(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT.
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