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Artigos Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2016, 09:30 - A | A

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Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2016, 09h:30 - A | A

Zona Verde

Desprezar as camadas do serviço público, portanto, foi decisivo para que houvesse o esfacelamento do Estado em interesses conflitantes

EDUARDO MAHON

Marcos Lopes/HiperNotícias

Eduardo Mahon/livro/O Cambista

 

Nunca haverá uma resposta certa para saber se a vida imita a arte ou se é o oposto. É que a arte é, ela mesma, uma parte fundamental da vida e, por isso, aprendemos tanto com a literatura, cinema, teatro, música etc. O secretariado de Pedro Taques deve assistir urgentemente um filme que recomendo – Green Zone, ou Zona Verde, 2010, uma película de Paul Greengrass.

 

O filme trata da invasão do Iraque. Mas não só. Aborda sobretudo como os militares lidavam com informações que chegavam desencontradas, falseadas, imprecisas.

 

É que as fontes sigilosas mentiam para as “mentes iluminadas” que viviam no conforto de uma Zona Verde, livre de conflitos, onde a guerra parecia distante. De outro lado, há uma abordagem política profundamente didática. Os Estados Unidos recusaram-se à aliança com a burocracia de Sadam, um erro que custou todo o controle e a paz do Iraque, favorecendo inclusive o terrorismo desenfreado que assistimos hoje.

 

Desprezar as camadas do serviço público, portanto, foi decisivo para que houvesse o esfacelamento do Estado em interesses conflitantes, sobretudo porque o invasor insistia em plantar gente que não tinha qualquer vínculo com o Iraque.

 

Silval Barbosa foi derrotado. Não só ele. Um grupo político grande que estava instalado no poder há 12 anos. O governo novo entendeu por bem promover uma mudança completa e abrupta, indicando a maioria de profissionais preparados, competentes, mas sem experiência junto ao funcionalismo público e à própria máquina estatal. Foi além.

 

Olhou com desconfiança para todos os antigos aliados dos governos passados, torcendo o nariz para a participação deles de forma direta ou indireta. Considero um erro estratégico. Da equipe passada, não são todos ladrões.

 

Dos servidores comissionados que geriam a máquina, não são todos ladrões. Mesmo os políticos que já estavam em mandatos eletivos, não são todos ladrões. Muito ao contrário: uma esmagadora maioria dos servidores públicos está madura a ponto de saber perfeitamente que servem não a um governo, mas ao Estado de Mato Grosso e que, por isso, governadores passam – eles ficam. Noutras palavras, até para se jogar um jogo diferente, é preciso se usar de um mesmo baralho.

 

A lição do filme de Greengrass é clara: quem quer ter sucesso na conquista do povo precisa entender as complexas teias de diálogo que já estão estabelecidas há décadas. A inovação deve ser dar. Aliás, é um imperativo. Mas indicar uma equipe sem legitimidade social, sem diálogo político e sem alianças com os servidores públicos é a receita para o fracasso inexorável. Mato Grosso é um Estado que transita entre o velho e o novo.

 

Há tradições que precisam ser estudadas e respeitadas. Ao mesmo tempo, vivemos uma nova realidade nos últimos 40 anos. Nenhum setor deve ser descartado para promover a união e o desenvolvimento. Ao contrário: todos devem ser contemplados politicamente com espaços no governo. Seja ele qual for. O pacto direto deve ser estabelecido de forma direta com o povo, sem intermediários, caso não haja outro jeito, outra saída.

 

Se houver, porém, é preciso tentar uma trégua com setores que estão em pé-de-guerra: servidores públicos e políticos. Não nos importa mais olhar o passado. As instituições de controle se encarregarão de destacar uma minoria corrupta. Interessa mais o futuro e não se dirige para frente com os olhos no retrovisor. E o futuro, seja qual for, passa pelo serviço público e pela valorização do servidor do Estado, não do governo.

 

O general de Sadam que poderia se encarregar de manter a ordem no Iraque, o homem-chave responsável pela disciplina no exército, o sujeito com legitimidade política para dialogar com as centenas de tribos e etnias iraquianas, este foi deletado. Justamente aquele que poderia fazer a transição para um regime mais aberto.

 

Os Estados Unidos não queriam nada que lembrasse o passado. Dissolveram exércitos, não reconheceram patentes, ignoraram as indenizações que o corpo burocrático fazia jus. A despeito da opinião de especialistas, de estudiosos e da própria inteligência norte-americana, o funcionalismo público que cuidava da máquina iraquiana foi demitido.

 

Os novos gestores indicados não tinham qualquer traquejo, experiência, apoio, legitimidade para representar os setores da sociedade multifacetada de um país em crise. O resultado foi um desastre. A vida imita a arte. Assim sendo, é preciso urgentemente uma sessão privada no Palácio Paiaguás para assistir, comentar, entender e, sobretudo, sair da Zona Verde. A pipoca é por nossa conta.

 

*EDUARDO MAHON é advogado.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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