O segundo domingo do mês de maio é comemorado o dia das mães. De acordo com dados do comércio esta é a segunda data que mais vende, atrás apenas do natal. Presentes e mais presentes como recordação, recompensa, gratidão e/ou desencargo de consciência... Não interessa muito o motivo, mas é uma data importantíssima para o comércio. Por isso quase todas as empresas evidenciam comerciais para apresentar um produto para você compensar a existência de uma mãe. Mas o que representa mesmo uma mãe?
Será que as mães são iguais? Todas as mães fazem bem aos seus filhos? Quantos tipos de mães existem no mundo? Da para discutir o papel de mãe separado da responsabilidade do pai? Da sociedade? Dos governantes? O fator biológico sobrepõe o verdadeiro sentido de ser mãe? Se é que há um sentido e ainda mais verdadeiro.
Temos naturalmente a tendência de em verbos, poesias e cantos valorizar tudo aquilo que de uma forma ou outra não valorizamos como deveríamos. São pessoas ou atitudes que desprezo, ou que não cuido como deveria, mas que não posso me separar dele. De alguma forma enfatizamos nossa culpa em prosa e versos como recompensa, de preferencia com lágrimas nos olhos.
É assim em relação aos homens simples, aos homens honestos, com os trabalhadores, com os pais, com os filhos, com irmãos, com a natureza, com a pessoa amada, com a gratidão... Toda beleza de uma poesia vem da ausência concreta, ou de uma falha, para que seja recompensada com o esforço das palavras ou do dinheiro. Até aqui nem uma novidade: recompensa e culpa são irmãs siamesas.
Feita estas considerações, vamos ao dia das mães. O que significa ter um dia especial só para si? Todas as mães merecem ser homenageadas neste dia? Alguém teria coragem de não homenagear uma mãe por pior que ela fosse? Ou não existe mãe ruim? Mãe e progenitora é a mesma coisa? Este dia é para os filhos refletirem sobre seu papel de filho ou para a mãe refletir sobre o papel de mãe?
Dá para separar o papel da mãe do ser mulher? Quantas pessoas santificam sua mãe mas ridiculariza e fere as demais mulheres em sua volta? Qual a diferença de ser mãe e ser mulher? Será porque mãe eu tenho uma e mulheres são todas as outras?
Penso ser ridículo ver um marmanjo se derretendo e gastando os tubos para comprar um presente para sua mãezinha querida e com lágrimas nos olhos fazerem uma doce homenagem, só que não né? Porque no dia a dia tratam as mulheres como se estas fossem objetos ou coisas inferiores. Não sei como separar minha querida e importante mãe das mães dos outros seres humanos, ou mesmo das futuras mães que se chamam mulher.
Como os homens tratam as mães que não são suas, mas são mães, com as da música Minha História, tradução de Chico Buarque: “Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar. Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar. Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente. E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente. Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde. E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe. Esperando, parada, pregada na pedra do porto. Com seu único velho vestido cada dia mais curto. Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto. Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo. Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher me ninava cantando cantigas de cabaré”.
No mundo do comércio e da hipocrisia prefiro ser reflexivo, mas hoje, especialmente, desejo um feliz dia das mulheres as que já são mães, das que ainda serão e até daquelas que nunca serão. Te amo mães do mundo.
*JOÃO EDISOM é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso e colaborador do HiperNotícias.
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