Mais uma vez o clássico Corinthians e Palmeiras fica marcado por pouco futebol e muita guerra entre as torcidas (confira aqui). Se você já me xingou pela afirmação do “pouco futebol”, temos o primeiro exemplo de intolerância. O segundo exemplo fica por conta da guerra entre torcidas, um dos maiores exemplos de intolerância nos dias atuais.
INTOLERÂNCIA, com a partícula negativa “IN”, é o antônimo de TOLERAR, que, por sua vez vem do TOLERARE, e se define como suportar alguma coisa ou alguém. A INTOLERANCIA, por sua vez, significa “atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões.”
De uns tempos pra cá essa “falta de vontade ou habilidade mental” é cada vez mais frequente, indo muito além das brigas de torcidas. Percebemos então que a intolerância atingiu um campo muito importante para o futuro do país, qual seja, a ideologia política.
O caso ocorrido semana passada é sintomático. Manchete em vários meios de comunicação o caso da médica que deixou de atender uma criança porque sua mãe tinha uma posição política divergente da médica. Aqui, aqui, aqui e aqui, foram alguns dos milhares sites que noticiaram o ocorrido (cito várias fontes para evitar qualquer forma de rótulo). Sem adentrar se correto ou não a atitude profissional da médica, a intolerância chega no seu pico extremo, e isso é um sinal muito alarmante.
Um outro funesto exemplo foi protagonizado por quem tinha tudo pra dar o exemplo (aqui). Em um espetáculo denominado “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, o protagonista do musical teceu críticas a duas personalidades políticas. Chico Buarque, por discordar das críticas, simplesmente retirou a autorização da utilização das suas músicas. Exatamente aquele que tanto sofreu com a censura, pratica um ato que, a toda vista, é exatamente isso, uma censura, ou alguém imagina um espetáculo dos musicais do Chico com músicas da Madona?
Mas isso não é novidade. A história nos remete a exemplos claros de intolerância. Para ficarmos apenas com um deles, sem desconsiderar sua pretensão totalitarista, Hitler com seu holocausto pregou claramente sua intolerância às raças inferiores com a disseminação do antissemitismo.
Como escrevi na coluna anterior o Brasil já experimentou inúmeros sabores amargos na política, inclusive fulminando garantias individuais e suprimindo a liberdade de manifestação. A liberdade que gozamos atualmente foi resgatada apenas na Constituição Federal de 1988, após longo e tenebroso inverno de golpe militar.
De lá pra cá estamos aprendendo a manifestar nossos pensamentos e crenças, e muitas vezes o fazemos sem papas na língua. Entretanto, a liberdade de manifestar não se resume na possibilidade de falar e agir. Nela também está, mais do que nunca, a necessidade de respeitar aquilo que os outros falam quando também exercem essa liberdade. Ao mesmo tempo que temos o direito de falar, temos o dever de aguentar a discordância e a crítica, pois isso é ônus inerente à garantia.
Atualmente, percebemos que a intolerância é uma realidade, chegando ao extremo das agressões, que, vez ou outra, atingem pessoas que não possuem qualquer relação com o imbróglio. Semana passada uma criança estava no meio. Neste domingo um transeunte foi a vitima ao ser atingido por um disparo. Morreu num domingo em direção à Igreja. Estava em direção a Deus, e assim conseguiu, mas por outro caminho!!
O destaque da semana fica por conta da expectativa do desenrolar do processo do impeachment, e o governo federal nas intensas negociatas das cadeiras que o PMDB desocupou. Será que a saída do PMDB abriu o espaço que o governo precisava pra “convencer” o eleitorado da Câmara dos Deputados? Enquanto isso a Lava-Jato toda semana nos presenteia com novidades, e a economia... bem, a economia se esfacela e nós “os normais” pagamos o pato.
Vamos acompanhar.
*LUCIANO PINTO é advogado e sócio-proprietário do LP ADVOCACIA. Email: [email protected]