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Variedades Quarta-feira, 21 de Agosto de 2019, 14:51 - A | A

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Quarta-feira, 21 de Agosto de 2019, 14h:51 - A | A

RELATO

Sou amante do meu ginecologista há sete anos

MARIE CLAIRE

REPRODUÇÃO

MEDICO


"Era uma tarde de verão em Belo Horizonte. Eu saí da faculdade e me dirigi ao hospital onde ele atendia para um exame de rotina. O “Dr. I”, como o apelidei, acompanhava havia cinco anos o meu problema de ovário policístico e, nesse dia, faria uma ultrassonografia para analisar o caso. Me sentei junto às outras pacientes na sala de espera e, quando ele me viu, sorriu de leve e disse: “Vamos passar para o exame?”.

 

Logo que entrei na sala vi que a enfermeira que acompanhava o procedimento não estava lá. Trocamos poucas palavras e ele fez o papel que normalmente caberia à ela, me pedindo que tirasse a roupa, colocasse a camisola e me deitasse na cama da sala ao lado. Terminado o exame, disse que precisava conversar comigo. Eu já suspeitava que algo não ia bem com o meu corpo, e ele confirmou que um novo cisto se formara. Sentado ao meu lado na cama, se apressou em me acalmar. “Está tudo bem”, repetiu algumas vezes. Eu o encarava de frente e vi que se aproximava aos poucos. Foi chegando mais perto, mais perto, até que me abraçou. Pensei: “tudo isso por um cisto?”, mas, mesmo assim, não imaginei o que estava por vir.

Foi nesse momento que ele afastou o seu corpo do meu, me olhou nos olhos e me beijou. Levei um susto. Eu vestia uma camisola de hospital e acabara de me submeter a um exame que, para completar, apontara um problema de saúde. A situação era absurda. Tudo era inadequado e fora de lugar e, mesmo assim, eu acabei beijando-o de volta.

O beijo acabou rápido e por conta dele. "Me desculpe, isso é errado", me disse. Vi que estava assustado, como se tivesse medo das consequências. Em nenhum momento pensei em processá-lo, mesmo quando não sabia se queria dar sequência àquela ação. Ainda hoje, acredito que uma briga na justiça não levaria a nada. Vesti minha roupa e saí do consultório confusa. Estava com raiva porque - poxa vida - ele não tinha o direito de me beijar. Mas eu tinha gostado do beijo.

Confesso que, mesmo achando que jamais seria possível, eu já havia fantasiado com ele e imaginado como seria na cama, pois o achava muito bonito. Os olhos azuis contrastam com as sobrancelhas grossas e os cabelos grisalhos dão um charme a mais ao rosto. Mesmo hoje, aos 53 anos, ele ainda tem um corpo em dia por causa da malhação.

Desde pequena, os jalecos brancos dos médicos me causam fascínio e só competem no meu imaginário com o uniforme dos bombeiros – a admiração chega ao ponto de ter influenciado minha decisão de ser enfermeira. Antes da minha primeira consulta com o Dr. I, a prima que me passara o seu telefone adiantara: “se prepara que ele é lindo”. Eu tinha 18 anos e concordei com ela assim que o vi, além de encontrar nele outras qualidades: era educado, delicado e tinha o dom de não me deixar constrangida. Foi nesse ambiente repleto de profissionalismo e respeito que, seis anos depois do primeiro encontro, nossa história começou.

Além de ser meu ginecologista, o Dr. I foi meu professor de reprodução humana na faculdade. Na época, todas as minhas colegas caíam de amores por ele. Apesar da fama de bonitão que tem, nunca ouvi histórias de casos extraconjugais com colegas ou alunas. Seria muita irresponsabilidade dar razão a rumores já que sua mulher, uma médica angiologista, atende na sala ao lado da dele.

Revelei meu segredo às amigas mais próximas e as opiniões se dividiram. Umas ficaram horrorizadas, outras com inveja. Dali a duas semanas, eu teria outra consulta, a pedido dele. Deveria ir ao consultório mostrar-lhe o resultado do exame - o que ele mesmo realizara. No dia agendado, entrei em sua sala como se nada tivesse acontecido e falamos de assuntos comuns entre médicos e pacientes, até que ele pediu para me examinar. Vesti a camisola e sentei-me na ponta da cadeira de exame, com as pernas para baixo, os joelhos unidos. "Você pode me desculpar pelo que fiz?", ele indagou. Disse que sim. Então ele perguntou se eu havia gostado do beijo, e fui obrigada a repetir a resposta.

Nesse momento ele me beijou e eu, novamente, correspondi. Só conseguia pensar que estava cometendo uma loucura, afinal, sua mulher estava naquele momento recebendo pacientes na sala ao lado. Ao mesmo tempo, não conseguia parar. Dessa vez fomos até o final, na cadeira de exames. Depois de uma hora e meia, saí da sala com provas do nosso “crime” espalhadas pelo corpo. Minha boca, antes maquiada, mostrava apenas os vestígios do batom borrado. Eu tinha também marcas no pescoço e nos braços, que estavam à mostra.

Na sala de espera, as mulheres estavam impacientes e perguntavam umas às outras quem era a pessoa dentro do consultório. Uma amiga que costumava me acompanhar nas consultas me esperava ali e entendeu o que havia ocorrido assim que me viu. E ainda morreu de vergonha, pois negara me conhecer às outras pacientes. Além dela, vi que a secretária percebeu o que se passara. Sei que ela sabe do nosso caso, mas nunca deixei de fingir que minhas visitas tem razões de saúde - o Dr. I costuma brincar dizendo que somos ótimos atores.

Alguns dias depois, ele procurou meu número de telefone na ficha do hospital e me ligou para marcar um encontro. Disse que não, afinal, tinha namorado e morria de medo que ele descobrisse. Depois de duas semanas, Dr. I. pediu que fosse o ver. Brinquei com a situação, dizendo que vamos ao médico apenas quando sentimos alguma coisa, mas ele insistiu. Tive mais cuidado dessa vez. Não estava de batom e vestia o jaleco branco que usava durante o estágio. A discrição não impediu que demorássemos o mesmo tanto da primeira vez, uma hora e meia e, depois desse dia, as consultas viraram uma rotina quinzenal.

Quando fiz 25 anos, engravidei do meu namorado. Imaginava ser uma coisa impossível de acontecer desde que o próprio Dr. I, uma referência no tratamento contra a infertilidade, me diagnosticara como infértil. Fiz o exame no laboratório que ficava em frente ao meu trabalho mais por pressão das minhas colegas do que suspeitar de uma gravidez. No caminho entre um lugar e outro, com o resultado em mãos, desmaiei em plena Praça do Papa (Praça Israel Pinheiro, no bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte) ao ver que era positivo.

Não tive dúvidas quanto à paternidade pois sempre usava camisinha quando ia ao consultório, e nesse mesmo dia decidi trocar de médico. Além de me tirar as esperanças de ser mãe em vão, o Dr. I. estava se atrapalhando também em outros diagnósticos. Durante toda a gravidez, não voltei a vê-lo. Liguei para dar-lhe a notícia, e ele foi bastante amigável para um amante. Me deu parabéns e se colocou à disposição para o que eu precisasse. Quando minha filha nasceu e ele foi conhecê-la no hospital, tive de ouvir minha avó dizer, depois que ele saíra: “um homem desses não poderia ser ginecologista”, referindo-se à sua beleza fora do comum.

Retomamos as nossas “consultas” e vi que não havia sentido falta dele no tempo em que ficamos separados. Aliás, nunca senti falta dele entre um encontro e outro, e esse talvez seja o segredo da nossa relação. Sete anos depois, continuamos no mesmo encantamento do início. Ele é uma coisa boa, que me acontece no mínimo uma vez por mês e, quando vou visitá-lo, escolho a roupa com cuidado, vou ao cabeleireiro, faço manicure e depilação. As mesmas coisas que fazemos quando vamos encontrar um namorado. Não perdi o respeito que tinha por ele depois daquele primeiro beijo. Ele segue sendo um homem de caráter, sério e bom profissional aos meus olhos.

Meu namoro, que sempre teve altos e baixos, terminou um ano depois que nossa filha nasceu, por problemas que não têm relação com o Dr. I. Sempre encarei nosso caso como algo que existe dentro do consultório, e só. Uso vestidos porque ele gosta, recebo roupas e lingerie de presente - no início, recusava, mas aprendi a aceitar. Quanto ao casamento dele, nunca me interessei por detalhes nem quis roubá-lo para mim, apenas sei que sua mulher é bonita e bem cuidada porque a conheço.

Tenho 30 anos, não sou mais a estudante que era quando começamos o nosso caso, e ele envelheceu. Estou certa de que não quero dividir minha vida com ele e sei que tudo pode acabar a qualquer momento. Depois que me separei do pai de minha filha, conheci o homem com quem namoro hoje. Sou apaixonada por ele, mas moramos em cidades diferentes. Penso em me mudar para perto do meu amor no futuro e, se isso acontecer, será o fim da minha história com o Dr. I."

 

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