HiperNotícias - Você bem informado

Quinta-feira, 14 de Junho de 2018, 07h:00

Empoderamento feminino e realidade

CONTEÚDO ESTADÃO
da Redação

Houve, na internet, uma tentativa de criar polêmica. A diretora Juliana Antunes, branca de classe média, teria autoridade para falar de mulheres negras da periferia de Belo Horizonte? Houve até quem sustentasse que o filme dela era a versão feminista (e mais adulta) de A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa. Polêmicas à parte, Baronesa, o filme de Juliana, é belíssimo. Venceu a mostra Aurora, de Tiradentes. Foi o primeiro vencedor do Troféu Helena Ignez, atribuído à direção de fotografia de Fernanda de Sena. Quanto a ser mais maduro que A Vizinhança, depende do olhar que se lança sobre os dois filmes. Juliana e Uchoa interagem. Ele montou Baronesa, ela integrou o júri jovem que premiou A Vizinhança.

Baronesa estreia nesta quinta, 14. O filme nasceu como um projeto universitário da diretora. Virou um experimento nas margens, híbrido de documentário e ficção. Além de Tiradentes, integrou a mostra de cinema independente do Rio e o Olhar de Cinema, com curadoria do cineasta Aly Muritiba, de Curitiba. Um filme de mulheres, com mulheres, sobre mulheres - talvez seja a primeira coisa que valha destacar em Baronesa. Em geral, os filmes de periferia privilegiam o olhar de homens, sobre homens. Juliana filma duas mulheres da Vila Mariquinhas, em BH. Andreia junta dinheiro para construir uma casa em outra vila - Baronesa -, na expectativa de que lá sua vida será mais pacífica. Leidiane cuida sozinha dos filhos. Os homens não estão ausentes porque a dupla flerta com o único sujeito importante da trama. Ele usa tornozeleira.

Na maior parte do tempo, Andreia e Leid conversam. Falam sobre sexo - masturbação, posições que estimulam o orgasmo. Fazem contas sobre o gasto da obra na casa. E brincam com um revólver. Por mais graves que sejam as questões debatidas - estupros, assassinatos nas favelas -, o filme mantém certa leveza. Consegue ser divertido. O mais importante é o vínculo com o real. Em nenhum momento Juliana falsifica a realidade para dar sua versão do empoderamento feminino.


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Com Agência Estado)