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Segunda-feira, 23 de Julho de 2012, 15h:14

Famílias despejadas relatam dificuldades e angústias dos dias sem moradia

Cerca de 150 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, dividem um pequeno espaço cedido por uma igreja evangélica; falta infraestrutura

HÉRICA TEIXEIRA

Passados pouco mais de uma semana do despejo aos moradores do Parque Humaitá I, as famílias tentam retomar às atividades em meio a muitas dificuldades. Os relatos são de angústias e luta para conseguirem manter uma rotina aceitável. Cerca de 150 pessoas dividem uma área de 25 por 12 m², espaço cedido por uma igreja evangélica.

Um dos moradores, Wagner Santos, disse que é difícil o dia a dia, mas não pode reclamar porque é o que os moradores despejados têm conseguido. Cerca de 48 famílias ocupavam um terreno no Parque Humaitá I, quando, no dia 12 de julho, oficiais de Justiça e policiais militares invadiram a área e derrubaram todas as casas e também feriram moradores com spray de pimenta e balas de borracha.

Mayke Toscano/HiperNotícias

Homens, mulheres e crianças relatam dificuldades após despejo do Parque Humaitá I; falta infraestrutura para as famílias

No espaço onde as famílias estão abrigadas há colchões e cobertores amontoados em um canto. Apenas seis ventiladores refrescam o local que é bastante quente e há dois banheiros disponíveis, mas estes não possuem chuveiros.

“Aqui a nossa situação não é fácil. Temos que dividir um pequeno espaço com muita gente. Nos banheiros não tem chuveiros e aí somos obrigados a tomar banho de caneco. No espaço em que fomos abrigados também faz muito calor porque o número de ventiladores é insuficiente”, destacou.

As refeições são preparadas pelas mulheres e os alimentos foram doados pelo Governo do Estado. “Aqui temos o básico, e assim dá para a gente esperar até que saia uma definição para onde seremos transferidos”, ressaltou Wagner, reafirmando que uma outra empresa doou frango e legumes. Mas a alimentação tem sido arroz, feijão e sardinha enlatada.

Mayke Toscano/HiperNotícias

As refeições são feitas com doações do governo do Estado e empresas; famílias dividem todos os afazeres domésticos e tentam manter rotina

Wagner Santos disse que no terreno no Parque Humaitá I havia casas de alvenaria, de latão, lona e madeira. As famílias não tinham água encanada, mas já estavam providenciando junto ao órgão público.

Uma das crianças atingida no rosto por uma bala de borracha disse que a cicatriz no rosto ainda dói um pouco. “Ainda dói por dentro (cicatriz), eu estou com medo da polícia, mas eu estou melhor. Aqui a situação é complicada, não tem como tomar banho”, falou.

A dona de casa Maria Madalena, de 30 anos é mãe de duas crianças e disse que tem tentado manter a calma diante das adversidades. Ela relatou que no dia que os policiais chegaram até o local para determinar a desocupação ela desmaiou.

“Aqui é bem difícil, tem muita gente, muita criança. No dia em que vi toda aquela violência eu não aguentei e desmaiei, mas estamos tentando”, enfatizou.

Outro morador é Everton Moreira Batista, de 25 anos, casado e desempregado, contudo aliviado porque deu para retirar alguns móveis antes da máquina destruir a sua casa. “Tomara que esta situação se resolva o quanto antes porque agora vai ser mais difícil construir tudo o que já tínhamos. Eu ainda consegui salvar algumas coisas, mas retomar uma construção eu não terei condições”, resumiu.

Mayke Toscano/HiperNotícias

Morador volta ao local onde tinha sua residência construída e encontra  destruição e muitas perdas