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Sábado, 19 de Outubro de 2019, 09h:08

"É transfóbico", diz líder LGBTI após atletas deixarem campeonato de vôlei

KHAYO RIBEIRO

“É extremamente transfóbico, porque não se justifica. Na superliga há uma mulher trans e a Confederação Brasileira de Vôlei [CBV] apoia”, afirma o vice-presidente do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de Cuiabá, Clóvis Arantes. A declaração ocorre após jogadoras cancelarem a inscrição no campeonato de vôlei de praia da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), em Cuiabá, por saberem que uma atleta transexual participaria da disputa

Marcos Lopes/HiperNotícias

Parada Gay/Clovis Arantes

 Clóvis Arantes, vice-presidente do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de Cuiabá

Conforme noticiado pelo HNT/HiperNotícias, quatro jogadoras de vôlei cancelaram suas inscrições no torneio que será realizado neste fim de semana na Associação Atlética Banco do Brasil.

O cancelamento é uma reação à inscrição da competidora Marcela Leite da Silva, 32 anos, que é uma mulher trans. As jogadoras se veem prejudicadas diante de uma possível desvantagem física em relação à Marcela.

Ao comentar sobre a situação, Clóvis Arantes, que além de vice-presidente do Conselho da Diversidade também é militantes das causas LGBTI, apontou que a atitude das jogadoras é transfóbica e o caso pode até mesmo ser levado à Justiça.

“A Marcela pode procurar o Conselho. Temos um centro de referência voltado para questões de homofobia e transfobia. Depois disso, ela pode fazer um boletim de ocorrências contra a situação e formalizar o caso na Comissão da Diversidade da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso [OAB-MT]”, argumentou a liderança.

O enquadramento do caso como transfobia, para Clóvis, se dá pelo fato de as jogadoras sequer terem visto Marcela Leite e já fazerem pressupostos de sua condição física. “Pode ser que a Marcela sequer tenha uma técnica bem desenvolvida no esporte. Mas as jogadoras já tomaram essa atitude sem a conhecer”, apontou.

A reportagem procurou a também ativista pelos direitos LGBTI, Danniela Veyga, que é membra da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Para ela, o posicionamento das jogadoras não passa de “transfobia velada”.

Divulgação

Marcela Leite da Silva

 Marcela Leite da Silva, à esquerda, ao lado de sua parceira na competição, Jaqueline Cabanhas, à direita

“O esvaziamento deste jogo é para impedir a participação da Marcela que, mesmo tendo toda a documentação necessária, está sendo constrangida com essa situação. Ela tem respaldo no Judiciário. Então, ela consegue resguardo na atual legislação vigente caso queira”, disse Veyga.

Caso queira recorrer na Justiça, Marcela Leite pode prestar uma denúncia formal com base na seguridade da Lei 7.716/1989, que, após atualização em junho deste ano, passou a equiparar condutas homofóbicas e transfóbicas a crimes de racismo.

Entenda o caso

Após desistir da partida, uma jogadora que preferiu não se identificar contou à reportagem os motivos que a levaram a cancelar sua inscrição. “Fisiologicamente, ela tem o biotipo de um homem. Na hora de atacar, vai ser mais forte. Não a conheço, mas é o esporte mesmo, não é transfobia”, argumentou.

A atleta admitiu nunca ter visto a jogadora Marcela pessoalmente, mas acredita no fato de que poderia ser prejudicada por conta do porte físico da adversária e por isso desistiu.  

Apesar de levantar desconfiança em algumas jogadoras, a presença de Marcela não intimidou todas as atletas. A jogadora Priscila Corrêa conta que segue firme no torneio.

“A atleta [Marcela] está vindo com toda a documentação necessária. Elas [outras jogadoras] falam que é injusta, porque a Marcela teria vantagens por conta da força. Mas eu vou continuar”, comenta Priscila.

O torneio deste sábado ofereçe quatro premiações às ganhadoras. O primeiro lugar leva para casa um prêmio de R$ 1 mil, o segundo ganha o valor de R$ 500, o terceiro R$ 250 e o quarto R$ 100.