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Terça-feira, 03 de Setembro de 2019, 16h:35

Eleições 2020: verdades reveladas

SUELME FERNANDES

Divulgação

Suelme Evangelista


Em Mato Grosso, nesse momento, deve ter no mínimo uns 10 mil pré-candidatos a vereador. Só em Cuiabá aproximadamente mil em busca de disputar uma das as 25 vagas da câmara. Muitas negociações acontecendo, cafezinhos, reuniões, contas eleitorais e análises de conjuntura sendo desenhadas pelos dirigentes partidários a fim de fechar as chapas proporcionais de 2020.

Em regra geral, esta fase funciona assim: os partidos identificam potenciais candidatos na praça e começam o assédio, tentam de tudo para angariar novas adesões, põem grandes lideranças para telefonar oferecendo apoio à candidatura, senadores, deputados, prefeitos e até governador... é uma fase de muita conversação e paparicação.

É comum nesta etapa ter muitas contas malucas de previsão eleitoral apresentando os nomes da chapa com estimativa de votos individuais e gerais. Geralmente os dirigentes colocam pra baixo o número de votos dos demais candidatos concorrentes da chapa e superestimam os seus votos. Essa etapa, no linguajar político, é conhecida como "vendeção" de sonhos que chamo aqui de "canto da sereia". DICA 1: jogue sempre pra baixo sua expectativa eleitoral e tenha humildade para seu sonho não virar pesadelo.

Por falar em “vender” sonhos, revelo algumas artimanhas típicas para capturar pré-candidatos: primeiro a garantia da tal “estrutura” de campanha. No caso de alguns partidos governistas isso pode ser "espaço" na máquina pública nas eleições e depois na gestão do executivo, caso o prefeito seja eleito e não dê certo o projeto de vereador.

Este espaço pode ser através de cargos ou serviços públicos para atender as bases ou “estrutura” de mobilização para campanha: material de divulgação, tempo de televisão, combustível, cabos eleitorais ou dinheiro vivo mesmo.

A “estrutura” é o grande atrativo e ao mesmo tempo a maior "ilusão" das campanhas políticas, principalmente para os marinheiros de primeira viagem.  Depois da lava jato e das operações do ministério público contra o caixa 2 está cada vez mais difícil e arriscado esta prática. DICA 2: Tire um extrato da sua conta que é mais seguro, consulte sua família e ouça sua esposa.

Antes que me esqueça, ainda tem o tal dinheiro do fundo eleitoral partidári que será repassado aos candidatos. Isso é igual pé de cobra, você já sabe o resto...

Outro chamariz que pode ser usado é o famoso rodízio de mandatos, compromisso de que o vereador eleito no partido vai se afastar por 4 meses para contemplar os suplentes que ajudou na legenda assumirem. Só vi funcionar esse esquema nas chamadas 'frentinhas' de partidos pequenos que não existirão mais em 2020. DICA 3: Corre duro pra ganhar as eleições porque se quiser rodízio, salvo raras exceções, é melhor ir pra pizzaria mais próxima. E cuidado com as matemáticas alheias, principalmente essa história que tem vereador no mandato na chapa concorrendo, mas não ameaça ninguém porque está “queimado” na opinião pública e que vai diminuir a votação e até perder. Pura ilusão, não subestime adversários: em 2016 metade se reelegeu.

Não se esqueça que cada vereador no mandato hoje (se for da base) tem cargos na prefeitura que são seus cabos eleitorais, emendas parlamentares e uma polpuda verba indenizatória (ajuda de custo). No caso de Cuiabá, são 18,5 mil mês, ou seja, numa conta de padeiro, em 4 anos um vereador qualquer, por pior que seja, terá no bolso no mínimo 888 mil reais na reeleição pra "torrar" na campanha.

E cuidado com o “rabo da sereia” que é a conversa de que o partido vai ajudar na sua campanha caso concorde com vereadores no mandato concorrendo. Na prática, após registrar as candidaturas no TRE, é cada um por si e Deus para todos. Na campanha tem dirigente partidário que não responde mensagem e nem atende celular. Como campanha é curta, não dará tempo nem para cobrar - quando você ver, já foi.

Por isso a renovação se torna tão difícil e a disputa tão desigual, mas não é impossível vencer. DICA 4: quanto menos “tubarãozinhos” na chapa melhor (candidatos endinheirados, vereadores no mandato ou que já foram testados nas urnas com boa votação). Se conseguir encontrar um partido  sem o famoso "estufa urna" e a chapa tiver competitiva, filie-se nele correndo.

A nova lei eleitoral põe fim às coligações e favorece político que está no mandato e os grandes partidos. A regra acabará com as “chapinhas” ou “frentinhas” que no passado elegiam vereadores com baixa votação pela coligação ou que funcionava como escadinha para partidos grandes, e com a cláusula de barreira individual é o fim também do efeito "Tiririca". Agora os partidos terão que formar chapas completas com todas as vagas disponíveis preenchidas para ter viabilidade eleitoral.

Como o prazo final para filiações será em abril de 2020, creio que a montagem das chapas de vereadores ficarão abertas até essa data, principalmente porque em março será autorizada a mudança de siglas, o “troca-troca” de partidos e a “abertura da janela” partidária.  Certamente haverá muitas novidades e supressas com a alteração das chapas e o desenho mais claro dos arranjos eleitorais e clivagens majoritários. DICA 6: Tenha  a garantia do dirigente partidário do número máximo de vereadores no mandato que o partido aceitará até o prazo final de filiação ou decida pelo partido no último momento depois de analisar todo o cenário político e estudar as chapas montadas, inclusive com as possíveis coligações majoritárias. Duas observações: o brasileiro vota nas pessoas e não nos partidos, infelizmente, e estar na coligação do candidato a prefeito mais forte eleitoralmente ajuda canalizar votos “úteis” pois para população em geral vereador é um “despachante de luxo” da sociedade junto ao prefeito.

Para o candidato não virar escadinha de ninguém, ouça esse conselho: avalie bem se você tem serviços prestados na comunidade; se possui boa popularidade e carisma;  liste num papel quantos apoios familiares e de amigos você tem (não se esqueça de calcular uma quebra de aproximadamente 30% por causa da chamada reta final ou dia “D”); compre um bom par de calçados e veja se tem algum dinheiro sobrando no bolso antes de decidir ser candidato.

Eleição de vereador é a mais difícil de todas, esteja preparado e atento para encará-la de maneira consciente e sincera, sem por em risco sua família, sua vida financeira e emocional, encantado por cantigas bonitas de um jogo duro, nem sempre honesto!

(*) Suelme Fernandes é mestre em História e analista político.