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Cuiabanália Domingo, 10 de Novembro de 2013, 11:36 - A | A

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Domingo, 10 de Novembro de 2013, 11h:36 - A | A

CUIABANÁLIA

Minhocão do Pari, uma lenda de mais de 100 anos que continua viva na memória

As temidas diabruras do gigantesco bicho foram imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente

NELSON SEVERINO





Faz 133 anos que o padre Ernesto Barreto comprou, no distante 1880, uma comprida faixa de terras a montante do rio Cuiabá, na área que passou a ser chamada de Barra do Pari e que deu origem a uma das mais conhecidas lendas de Mato Grosso, a do Minhocão do Pari.

Passado mais de um século, a lenda do Minhocão do Pari continua viva na memória dos moradores mais antigos do local e que para preservá-la vão passando o que sabem sobre o bicho de geração para geração.

As temidas diabruras do gigantesco bicho, como emborcar canoas para comer pescadores ou provocar rebuliço das águas dos profundos poços nos quais habitava em seus momentos de fúria noturna, acabaram sendo imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que levou para a avenida Mato Grosso em 85 ou 86 o tema “Lendas e crendices da minha terra natal” e cujo samba foi composto e musicado por Neguinho da Beija-Flor de Nilópolis-RJ.

Marcos Lopes/HiperNotícias

lenda do Minhocão do Pari continua viva na memória dos moradores mais antigos da Barra do Pari

Os moradores mais antigos da faixa de terras que fica nos fundos dos jardins Santa Amália e Araçá, emoldurada por um grande morro no primeiro bairro e uma bela ilha nas imediações do local onde deságua o Rio Pari, do lado do rio em Várzea Grande, e que chamam de “nosso pedaço de paraíso”, não só conhecem a lenda do Minhocão do Pari.

Como outras crendices que povoam o imaginário popular da região, como uma enorme sucuri que vivia numa lagoa dali e o negrinho que aparecia numa pedra do rio Cuiabá na área da Barra do Pari e, atrevidamente, às vezes até sentava na proa das canoas para deixar os pescadores de cabelos arrepiados.

Quem melhor conhecia a lenda do Minhocão do Pari era Benedito Oscarino Barreto, o Ditão, que construiu a primeira casa da Barra do Pari. Ditão era neto do padre Ernesto Barreto, que tinha oito filhos, e faleceu com 92 anos em 2004.

INÍCIO DA COMUNIDADE

Herdeiro do avô Ernesto Barreto, Ditão, que nasceu e morreu na Barra do Pari, foi comprando áreas que pertenciam a seus irmãos e acabou formando uma pequena comunidade no local, com a construção de umas 20 casas, algumas de alto padrão. Como seu avô sacerdote, Ditão era devoto de São Benedito e inclusive construiu em 1952 uma capelinha na comunidade para homenagear o santo.

Aos 70 anos, dona Josefina Viana, a dona Fiota, sobrinha de Ditão, e em cuja casa vive até hoje, afirma que ele era muito procurado por curiosos para contar histórias envolvendo o horroroso bicho que vivia nas águas profundas de dois poços que existem nas imediações do Restaurante Varandão.

Já Edisseia Barreto, 47 anos, herdeira junto com um irmão, dos bens que Ditão deixou, lembra-se vagamente e de poucas coisas que seu pai contava para a família e visitantes sobre o lendário Minhocão do Pari.

Marcos Lopes/HiperNotícias

Edicéia Barreto, filha do Ditão, que era o melhor conhecedor da lenda do Minhocão do Pari

O que se sabe hoje das histórias que foram sendo passadas pelos mais velhos aos seus descendentes que o Minhocão do Pari desapareceu da Barra do Pai com a grande enchente de 1974.

A explicação que alguns moradores da comunidade têm para o sumiço é que a enchente destruiu uma antiga casa onde o Minhocão do Pari enganchava seu rabo, protegido pela vegetação, para reinar soberano nos dois poços de grande profundidade naquela área do Rio Cuiabá. Essa versão é confirmada inclusive por dona Fiota, com base no que ouvia da boca do tio Ditão.

Moradora há 30 anos da comunidade, a comerciante Edith Lúcia da Silva, 68 anos, afirma que nunca viu o lendário Minhocão do Pari, mas que algumas vezes ouviu o barulho provocado pelo levantamento de folhas do fundo do rio, agitação das águas e canoas de pescadores amarradas na vegetação da beira do Cuiabá batendo umas nas outras por causa do violento movimento das águas.

Edith garante que nunca ouviu falar que, pelo menos ali, algum pescador tenha sido comido pelo Minhocão do Pari...

COMPARAÇÕES


Tem gente da Barra do Pari que acha que o Minhocão do Pari na realidade era uma sucuri de tamanho descomunal que vivia numa lagoa das imediações da localidade. A lagoa acabou sendo “sangrada” para aumentar o volume de água do rio Cuiabá, quando começou a construção da barragem de Manso e a sucuri desapareceu.

Sobre essa gigantesca sucuri conta-se que certa vez um pescador precisou atravessá-la para chegar do outro lado para cortar capim para os seus animais. E caminhou um longo trecho sobre o que parecia ser uma árvore.

No outro dia, quando o pescador voltou para buscar mais capim para seus animais, não encontrou mais a travessia na superfície da água. Foi aí que ele entendeu que havia caminhado sobre a sucuri. História de pescador...

Marcos Lopes/HiperNotícias

Josefina Viana, a dona Fiota, sobrinha de Ditão, diz que ele era muito procurado por curiosos para contar histórias do horroroso bicho

"O que estão querendo fazer com essas histórias como a dessa sucuri é desmistificar a lenda do Minhocão do Pari. Mas não vão conseguir. Essa lenda não vai desaparecer nunca", reage um velho pescador que nasceu e vai morrer na Barra do Pari. “Não tem quem me tira daqui”, garante o morador, defensor das tradições da Barra do Pari.

Já falecidos, dois pescadores da comunidade – Libano Zacarias de Souza, o Pituca, e seu Xisto – falavam muito de um negrinho que aparecia com freqüência na Barra do Pari, pregando sustos em quem singrava as águas do Rio Cuiabá naquele trecho. Diziam eles que o lugar preferido da estranha e lendária figura aparecer era numa pedrinha do leito do Cuiabá rio acima, depois do Varandão. Ou então ele emergia do fundo do rio e se sentava na proa das canoas, de onde ficava só olhando para os pescadores, muitos dos quais saíam das águas em disparada e se benzendo...

A comerciante Edith ouviu seu Xisto dizer muitas vezes que quando ele entrava no rio ou já estava pescando e o negrinho aparecia, juntava as tralhas de pesca e ia caindo fora ligeirinho. Não por medo do negrinho, que não falava com ninguém e muito menos fazia algum mal aos pescadores. Ou fazia, sim. Com a sua presença perto ou dentro da canoa, ninguém pegava nada...

Marcos Lopes/HiperNotícias

Igreja da Barra do Pari; Há 133 anos o padre Ernesto Barreto comprou uma comprida faixa de terras às margens do rio Cuiabá, que passou a ser chamada de Barra do Pari


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Beatrice Thommen Maciel 17/11/2013

Parabéns pela linda história a ser preservada, como também a localidade onde se encanta com esta lenda.

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edson cassimiro 16/11/2013

Aqui tudo acontece, o Estadio está abandonado, ruas precisando de reparos, ruas fechada por muro "sem autorização legal", falta de administração e bom senso e por ai vai. Estamos resistindo.

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adildo jacinto de oliveira flho 14/11/2013

Lenda ou não, está e estará sempre no imaginário da população ribeirinha do Pari, Sta. Amália e adjacências. Porém, o lamentável é o estado deplorável em que se encontra aquela localidade. Sujeira, lixo, desmatamento, ocupação ilegal e abandono. A ocupação ilegal é notória, o abandono também, principalmente, da Igreja citada na matéria. O pequeno estádio construído nas proximidades está totalmente destruído, outro campo de futebol ao lado, está tomado de lixo jogado pelos próprios moradores. Tudo produto da falta de educação e do abandono da Escola, a principal responsável pelo enaltecimento dos valores mais significativos da sociedade. Uma pena.

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Reinaldo Thommen 13/11/2013

Bom se é verdade ou não, eu ouço esta história desde criança, e me lembro muito bem quando a primeira ponte nova caiu, diziam os antigos que tinha sido o tal minhocão que bateu ali. Se isso é lenda ou realidade não sei prefiro dizer como os hermanos argentinos que dizem: Jo no creio em bruxas, pero que existem si existem.

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raoni ricci 11/11/2013

Vivi essa lenda na minha infancia. Texto brilhante do mestre Nelson Severino, que me fez relembrar os tempos em que "banhava" naquelas aguas

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5 comentários

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