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Artigos Terça-feira, 18 de Março de 2025, 13:45 - A | A

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Terça-feira, 18 de Março de 2025, 13h:45 - A | A

SUELME FERNANDES

Nataly Ellen e a banalidade do Mal

SUELME FERNANDES

O excelente ensaio do juiz e filósofo Gonçalo de Barros neste HiperNotícias, dissertando se o tema da formação do caráter do mal é algo inato ou construído, me fez revisitar a filósofa e jornalista Hannah Arendt, que em sua obra Eichmann em Jerusalém, trouxe à tona o conceito da Banalidade do Mal, ao analisar o julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais responsáveis pela logística do Holocausto. Eichmann era um burocrata da SS nazista encarregado de organizar os transportes que levavam milhões de judeus aos campos de extermínio, como Auschwitz e Treblinka.

Durante o tribunal, Eichmann defendeu-se afirmando ser apenas um cidadão comum, pai de família e funcionário cumprindo ordens. Ele alegava não ter consciência da crueldade e do genocídio que resultavam de suas ações. Para Arendt, esse caso demonstrava que o mal pode ser cometido não apenas por indivíduos sádicos ou perversos, mas também por pessoas comuns, incapazes de refletir criticamente sobre o impacto de suas decisões.

Segundo sua tese, quando práticas de violência e crueldade são incorporadas ao cotidiano sem questionamento, elas se tornam normais, banais. Essa normalização não surge apenas da maldade intrínseca das pessoas, mas da ausência de valores morais e do pensamento crítico na educação, tanto formal quanto informal.

No contexto do nazismo, o totalitarismo impôs essa naturalização do mal. Situações que ao meu ver se repetem hoje, em casos assombrosos como esse que aconteceu em Cuiabá há alguns dias que levou ao assassinato da jovem Emelly Azevedo Sena, grávida de nove meses, aos 16 anos.

A Violência no Brasil e a Banalização do Mal

O Brasil enfrenta uma escalada de violência que parece estar se tornando parte do cotidiano. Feminicídios, homicídios e latrocínios são recorrentes, e os índices alarmantes refletem a dificuldade do Estado em garantir segurança e educação de qualidade para todos. Nesse ambiente, o mal se banaliza, assim como ocorreu na Alemanha nazista entre 1940 e 1945.

Para aqueles que vivem em um cenário de violência extrema, esses atos passam a ser vistos como normais. A brutalidade torna-se um modo de vida, e a indiferença diante da morte cresce. O discurso do "antes ele do que eu" reforça essa insensibilidade, criando um estado de consciência endurecido pela brutalidade cotidiana.

A forma como a mídia expõe essas violências também contribui para essa naturalização. O excesso de notícias sobre crimes pode dessensibilizar a sociedade, tornando a tragédia um espetáculo. Talvez fosse necessário um compliance na cobertura jornalística, evitando a exploração exacerbada de casos violentos.

Eichmann e a Falta de Pensamento Crítico

Hannah Arendt descreveu Eichmann como alguém que não pensava — não no sentido de ser ignorante, mas porque simplesmente não refletia sobre suas ações. Ele obedecia ordens sem questioná-las, sem avaliar o impacto moral de suas decisões.

Esse aspecto da Banalidade do Mal se faz presente em muitos casos atuais. Quando vi a frieza da narrativa de Nataly Helen, a assassina da adolescente, lembrei imediatamente da naturalidade com que Eichmann falava de suas funções.

Para Arendt, o mal se torna banal não porque os atos em si sejam comuns, mas porque podem ser cometidos por pessoas comuns, sem motivações extraordinárias. A violência, quando incorporada como valor moral, inverte as regras do convívio social: matar ou morrer torna-se algo trivial.

O Papel do Estado e da Sociedade

O pensamento de Arendt reforça a necessidade de um Estado democrático forte, com instituições sólidas e eficientes — especialmente na educação e na justiça. Somente por meio de uma formação crítica e de valores civilizatórios podemos impedir que o mal se torne algo banal e que a violência se naturalize como norma social.

Sobre o tema, indico dois filmes disponíveis nas plataformas de streaming para quem desejar ingressar nesse universo. O primeiro "Zona de Interesse", longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, que se passa durante a Segunda Guerra Mundial (disponível na Amazon Prime). Já o segundo é "Operação Final", a Netflix, que mostra a caçada de Eichmann por um grupo de elite de soldados israelenses.

(*) SUELME FERNANDES é professor e historiador.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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Lindiomar Martins 18/03/2025

Uma fato crível para os dias atuais a banalizacão das relações sociais por meio das mídias em especial as redes sociais. Parabénsum belo texto provocativo.

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Deusa 18/03/2025

Excelente reflexão, Suelme! Como sempre, nos agraciando com aulas maravilhosas de História! Adoro seus artigos, altíssimo nível de conhecimento

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Natália 18/03/2025

Excelente texto e análise! Suelme foi meu professor e sinto saudade até hoje das suas aulas. ????????????

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3 comentários

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