Pelo menos, é nisso que aposta o diretor canadense Kyle Edward Ball em seu filme de estreia Skinamarink: Canção de Ninar, que acaba de ser lançado no Brasil. Descrito pelo próprio cineasta como um "terror experimental", o longa relata a história de dois irmãos que acordam de madrugada e se encontram sozinhos na própria casa.
Ao explorarem o local, notam que todas as portas e janelas desapareceram. Além disso, o pai deles também está desaparecido e, conforme a casa é explorada, uma estranha voz surge na escuridão e chama o nome dos irmãos.
Skinamarink, no entanto, não é um filme de terror comum. Apostando no subgênero de terror "found footage", em que a narrativa se constrói a partir de cenas que simulam parte de filmagens, o longa cria uma atmosfera desconfortável e onírica, típica de um pesadelo infantil, com ângulos de câmeras estranhos e ruídos imagéticos e sonoros típicos do cinema antigo.
Apesar de o filme se passar em 1995, Ball aposta na emulação da tecnologia analógica para evocar estranheza. "Existe um certo sentimento, que esses filmes provocam, que foi perdido ao longo das décadas. A granulação da imagem, a gradação de cores, o enquadramento, os zooms e o som são importantes para mim", afirma o diretor. Por vezes confuso como um sonho, Skinamarink foi feito para desafiar o espectador. "É um filme que demanda ser discutido, mesmo que você o odeie", avisa Ball. "Por vezes é vago, tudo tem de ser interpretado. Isso foi proposital, queria que fosse um filme que ficasse na cabeça das pessoas."
VIRALIZOU
Com um orçamento de US$ 15 mil, o longa faturou mais de US$ 1 milhão nos EUA e se tornou um sucesso em redes sociais como TikTok, Reddit e Twitter. A viralização, no entanto, se deu após um incidente em um festival de cinema. O catálogo online da mostra cinematográfica foi vazado e, em pouco tempo, Skinamarink já estava na internet.
Edward Ball entrou em pânico. Afinal, o filme já tinha um contrato de distribuição com a Shudder, serviço de streaming americano focado no gênero de terror, e seria lançado no Halloween de 2023. Mas o vazamento acabou ajudando o filme.
O longa conversa com tendências da internet como a do "liminal space", estética online que retrata lugares abandonados que flertam com o surreal, e também aposta em uma fotografia que lembra certos jogos de videogame de terror.
"O terror analógico também está bem em alta na internet, tudo isso fez com que o filme fosse perfeito para ela", admite o diretor. Antes de dirigir o longa, Ball produzia curtas em um canal de YouTube em que interpretava pesadelos que seus inscritos lhe enviavam, o que lhe deu familiaridade com as estéticas que faziam sucesso no mundo online. De like em like, o filme se tornou um fenômeno. Sua natureza desconexa e vaga se encaixou perfeitamente na imediatez das redes sociais e são muitos os vídeos que mostram pessoas reagindo a trechos assustadores do longa.
PIRATARIA
"O filme ganhou uma nova data de lançamento e, quando estreou, se tornou um sucesso comercial", afirma Ball. Ele entende que a pirataria ajudou, mas não acredita que esse seja sempre o caso. "Nós já tínhamos um acordo de distribuição antes de o filme ser vazado, mas alguns filmes do festival não o tinham - e foram prejudicados pelo vazamento."
O sucesso na internet fez o longa alcançar públicos inimagináveis. Os fãs brasileiros, inclusive, são numerosos, mesmo que o filme só tenha sido lançado no Brasil hoje. "Alguém pegou a legenda do vazamento, que estava em espanhol, e fez uma tradução não oficial para o português. E, do dia para a noite, brasileiros começaram a falar sobre o filme."
Além da familiaridade com a linguagem da internet, o diretor canadense aponta para a estranheza do projeto como uma das razões para o êxito. Para ele, as pessoas estão cansadas de ver a mesma coisa no cinema e, quando um filme diferente aparece, é natural que se torne popular. "Todo diretor de terror sonha em fazer sua própria versão da casa mal-assombrada. Essa é a minha."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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