Escritores, poetas, cineastas, filólogos e filósofos dão seus pitacos sobre essa indefinível sensação de banzo que nos caracteriza (mas será que é assim mesmo?). A saudade remete a algo perdido, por isso se confunde com a nostalgia, pois esta olha sempre para o passado. O saudosista também não é muito benquisto nos dias que correm. A palavra refere-se àquela pessoa para a qual o melhor da vida já passou, já foi, já era e afunda-se nas brumas do antanho.
Mas, para nossa surpresa, nem sempre a palavra desperta conotações negativas. Para o historiador Durval Muniz, a saudade é algo ontológico, o nosso suspiro diante do Paraíso perdido. O escritor Braulio Tavares entende que é impossível para uma pessoa situar-se na vida sem, em alguma medida, remeter-se ao que já foi; quer dizer, ao que já não é mais, mas foi um dia para que ela seja quem é no presente. Portanto, conclui, alguém sem passado seria como uma casa sem alicerces. Frágil, prestes a desabar diante de qualquer intempérie.
Desse modo, a saudade não se comporia apenas do seu negativo - o luto pelo que não volta mais - mas pelo seu positivo, um esteio para enfrentar o desconhecido e seus desafios. Não é apenas paralisante, como temem os que só creem nas promessas do futuro, mas antídoto para o eterno presente, a alienante mitologia do nosso tempo. Sem passado e sem futuro, vivemos no eterno hoje das redes sociais. Um pouco de saudade não faz mal a ninguém, como nos lembra esse belo filme.
'Saudade'
(Brasil, 2017, 77 min.)
Direção de Paulo Caldas
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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