"É um dos meus momentos favoritos de um show", disse ele, depois da apresentação naquele Lollapalooza 2014, no fim da noite de sábado, à reportagem, ao explicar o sorriso que não conseguia disfarçar - seja durante a performance, iniciada às 18h, ou seja depois dela, como na entrevista, realizada um par de horas depois. "Gosto de ver as pessoas tentando entender o que está acontecendo no palco."
O Strokes se tornou pop. A guitarra entrou na moda. As jaquetas de couro, os cabelos com aspecto ensebado e as calças jeans justas, por vezes rasgadas, se tornaram parte do "look do dia" daqueles entendidos nas tendências fashion. O Voidz é a resposta de Casablancas a tudo. É antimoda, é antifashionismo, é antipop. É, essencialmente, um grito. De liberdade, de provocação, de petulância. Como se o rock star de outrora, berrasse, ao microfone: "É a mim que vocês querem? Então, fiquem com isso".
É tudo o oposto - e, acredite, é proposital. As roupas são largas e sobrepostas de forma desleixada, provocadora. Os tênis agora são mais próprios para uma partida de basquete, com canos altos e largos, do que para uma apresentação. Os cabelos estão cada vez mais mal cortados - às vezes, a impressão é a de que um aparador de grama talvez fosse capaz de fazer um trabalho melhor.
É compreensível, a combinação toda parece confusa. Mas é, acima de tudo, divertida. Porque Casablancas poderia se deitar no berço de ouro que sempre teve - é filho de John Casablancas, o fundador da agência de modelos Elite Models, morto em 2013 - e que aumentou graças ao sucesso do Strokes. Preferiu criar uma nova persona artística, uma nova forma de compor, rodeou-se de novos amigos. Tudo no oposto, embora ainda guiado pela mesma força da guitarra.
O Voidz é arrojado no discurso. Com ele, Casablancas não fala mais sobre as noitadas, sobre ressacas e relacionamentos falidos. Sua mira agora aponta para o consumismo, a modernidade e a fragilidade das pontes construídas entre as pessoas. Busca referências oitentistas para seus videoclipes - que parecem perfeitos para serem assistidos em aparelhos de VHS, se hoje eles fossem encontrados com facilidade. De alguma forma, ele soa nostálgico. De um tempo pré-Strokes, de uma época com mais brilho, com bolas de espelho no teto das boates e toneladas de sintetizadores nas canções de Tyranny, o disco de estreia do Voidz, lançado naquele mesmo ano de 2014.
E, vamos combinar, Julian Casablancas nunca foi um bom showman. Sua força não estava nas apresentações ao vivo. Com o Strokes, as luzes costumam ser tão escuras e ele se mantém tão escondido atrás do microfone e debaixo de um boné de caminhoneiro e de uma franja, que é quase impossível vê-lo. Com o Voidz, dispensou até os óculos escuros. Encarou a plateia de rosto exposto. E sorriu, sorriu um bocado. Isso, talvez, tenha um valor maior, não?
CASABLANCAS + THE VOIDZ
Cine Joia. Pr. Carlos Gomes, 82, tel. 3101-1305. 4ª (18), 22h15.
R$ 160. Com Rey Pila (20h45) e Promiseland (21h30)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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