“Nenhum governo quer a Polícia Federal forte”, afirmou o policial federal aposentado, Newton Ishi, conhecido como o “Japonês da Federal”, em entrevista coletiva realizada na tarde desta sexta-feira (17), em um hotel de Cuiabá. Aos jornalistas, o agente disse que a Operação Lava Jato deverá continuar por pelo menos 10 anos e acredita que um dos melhores momentos da instituição foi no governo do PT.
Alan Cosme/HiperNoticias
Policial ficou conhecido pela prisão de pessoas "ilustres" na Lava Jato
“Se você analisar, a Operação Lava Jato começou no governo PT. Nós, policiais federais, ficamos oito anos sem receber, sem reajuste de salário no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Vamos analisar, governo algum quer a Polícia Federal forte, a realidade é essa. Talvez seja pelo momento em que estamos vivendo de corrupção”, disse.
Newton Ishii se aposentou em fevereiro deste ano. Com a deflagração da Operação Lava Jato, em março de 2014, o agente passou a ser conhecido em todo o Brasil. A cada fase da operação, Ishii aparecia ao lado de empreiteiros, operadores financeiros, políticos e funcionários públicos que eram presos.
Ao ser questionado sobre a ação policial, o o agente disse que não gostaria de ter prendido essas pessoas, pois queria que elas vivessem corretamente e não cometessem crimes contra o país.
“Eu não gostaria de ter prendido essas pessoas. Não porque eu não queria fazer o meu trabalho, mas sim porque eu queria viver em um país onde essas pessoas não tivessem cometido crimes. Nós queríamos que essas pessoas vivessem corretamente para que a gente não precisasse prendê-las”, explicou.
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Perguntado sobre a possibilidade do ex-presidente Lula ser lançado candidato a presidência, o policial disse não ter opinião e afirma que deixou de acompanhar televisão, após a publicação de diversas matérias, que segundo ele, eram inverídicas.
“Para ser sincero, eu não parei pra pensar sobre a possibilidade dele (Lula) ser candidato. Nós estamos em um trabalho de tentar elegermos um policial federal em cada estado, para acabar com a corrupção. Eu sou uma pessoa que não vê muita televisão, por que eu fiquei desgostoso com a própria imprensa por ter divulgado informações que não eram reais sobre a minha pessoa. Mas, só Deus pra saber até que dia que ele vai ficar preso”, relatou.
Em 2009, Newton foi condenado por facilitar a entrada de contrabando no país. Em junho de 2016, ele foi preso em virtude da Operação Sucuri, que descobriu envolvimento de agentes na entrada de contrabando pela fronteira, e passou a cumprir pena em regime semiaberto.
Porém, o policial afirma que a sua prisão aconteceu pelo fato dele ter sido conhecido na imprensa. Ele acredita que a sua exposição foi preponderante para prisão. Ishii afirma que a intenção era “manchar" a Lava Jato.
“A minha prisão aconteceu pelo fato de eu ter sido exposto na mídia. Não pode ter sido coincidência só eu. Na época, tinha 23 acusados, mas eles julgaram somente eu. Porque só eu? A minha prisão aconteceu porque eu fui exposto na mídia. Eles tinham a finalidade de manchar a Operação Lava Jato”, afirma.
O agente aposentado lembra que, durante o seu trabalho na Polícia Federal, já recebeu proposta de propina, no entanto, afirma que nunca recebeu nenhuma vantagem ilícita.
“Eu já recebi, é claro. Esse tipo de proposta você recebe mesmo. Mas, na Operação Lava Jato, eu te garanto que nunca recebi, porque os presos sabem que a Polícia Federal está mudando o país. Mas eu sempre mantive a postura e nunca permiti que oferecessem alguma vantagem. Diante disso, eles percebem que se você for sério, os presos nunca vão te oferecer qualquer dinheiro”, contou.
Por fim, ao ser questionado sobre a série “O Mecanismo” da Netflix, inspirada na Operação Lava Jato, Newton Ishii afirma que não assistiu e que nada mostrado nas cenas aconteceu durante as ações policiais.
“Primeiro, eu comecei a acompanhar, mas eu não entendia nada do que o Selton Mello falava (ator que interpretava o primeiro policial a se envolver no processo que, mais tarde, daria início à Operação Lava Jato). Segundo, nada daquilo é a realidade, então nem vou discutir porque nada daquilo aconteceu. É claro que é filme, arte então vamos respeitar o trabalho dos caras, muito bem feito por sinal, mas nada a ver com a realidade do que aconteceu. Por exemplo, sem querer criticar, eu nunca vi um delegado sentar e dirigir uma viatura. Quem faz os trabalhos de ruas, somos nós, os agentes. Os delegados fazem muita coisa, mas só que naquele filme, só eles fazem. Nós não fazemos nada. Eu não estou falando que é uma farsa, mas ele pode ter entendido aquilo e pra ele é uma realidade. Eu não posso defini-la, mas eu não assisti até o final”, concluiu.
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