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Terça-feira, 13 de Março de 2018, 14h:16

Emanuel Pinheiro: O noivado acabou

EDUARDO MAHON

Marcos Lopes/HiperNotícias

Eduardo Mahon/livro/O Cambista

 

Dos quatro anos de mandato, os governantes costumam aproveitar os seis primeiros meses de núpcias para diagnosticar problemas e definir metas. Nesse período, geralmente o gestor fica a salvo de críticas. O então candidato Emanuel Pinheiro vendeu à população cuiabana a imagem de humanização, uma nova forma de relacionar gestão administrativa com o público. E o fez com enorme competência. Ganhou, além da eleição, um amplo apoio na Câmara dos Vereadores, contando inclusive com vereadores do partido adversário que parecem defendê-lo mais do que parlamentares da própria base. De início, eleito e empossado, Emanuel prometeu asfaltar 600km em Cuiabá, além de traçar metas ousadas como, por exemplo, a construção do Memorial Cuiabá 300 anos, o Contorno Leste, a Via Verde, 8 parques temáticos e, ainda, finalizar a Orla Esquerda do Porto e construir um cais. Isso para não contabilizarmos as 25 unidades de ônibus elétricos, o projeto do Centro Geodésico da América do Sul, o Museu Dutrinha, o Marco São Gonçalo Beira Rio, além das requalificações do Morro da Luz e do Mercado do Porto. Antes de tudo, porém, ainda em campanha, prometeu Emanuel Pinheiro finalizar as obras do VLT, caso o governo do Estado de Mato Grosso não o fizesse. Trata-se de um surto psicótico de megalomania.


Ainda que reconheçamos o talento político do prefeito em escapar das polêmicas frontais, já estamos no segundo ano de mandato de Emanuel Pinheiro e nenhuma obra prometida foi sequer iniciada. Recordo de um projeto pé-no-chão que não foi para frente: dois ônibus a percorrer o circuito histórico no centro da cidade. Nem mesmo essa proposta modesta foi colocada em prática. De concreto, o que se viu foi a triste queda da Casa de Bem Bem, num truncado relacionamento entre poder público e empresa contratada. No mais, houve muitos shows. A Secretaria dos 300 anos que foi criada como uma espécie de amálgama da cuiabania, um elemento agregador, revitalizador de memórias e vivências, não tem sede e perambula por salas emprestadas no Palácio Alencastro, a viver de eventos onde os patrocinadores tutelam que cerveja consumir, onde haverá segurança, quanto se pagará por um camarote. Ainda não tive oportunidade de ver o chamamento público onde a empresa contratada pela Secretaria dos 300 anos está desbancando a concorrência de outras especializadas da própria cidade. Nem tampouco sei para o que serve essa “secretaria-meio” nos festejos tipicamente cuiabanos.


Mês a mês, Emanuel Pinheiro comemora o pagamento do salário em dia como um grande feito administrativo. Enquanto isso, sanciona aumento na verba indenizatória de servidores da Câmara dos Vereadores, da mesma forma em que abona a criação de cargos no legislativo municipal sem a imperiosa necessidade da presença. Vai fiando-se no funcionalismo público, esperançoso em salvar-se do constrangimento da gravação onde embolsa pacoteiras de dinheiro. Entende erroneamente que o populismo é um método eficaz de se blindar. O programa de ampliação de creches, combate à dengue e chicungunha e incremento de postos de saúde e o tão prometido Pronto Socorro em ordem, tudo cedeu lugar ao monotemático salário em dia. O plano básico de saneamento, o estacionamento subterrâneo nas praças (?!), a pavimentação de estradas vicinais, tudo previsto no plano de governo do candidato Emanuel Pinheiro não foi concretizado, granjeando o 3º lugar como pior gestor municipal do Brasil, por um levantamento realizado pelo G1 em todas as capitais do país.


O diagnóstico do próprio marqueteiro de Emanuel Pinheiro demanda a máxima atenção. O cuiabaníssimo Antero Paes de Barros criticou: “falta rumo em Cuiabá. Qual o projeto de Cuiabá quando for completar 300 anos? Nós sabíamos que o ex-prefeito Mauro Mendes tinha o plano de entregar o Parque da Tia Nair e a Orla do Porto. Agora não sabemos nada. Paciência tem limite e esgota. Credibilidade das urnas tem limite, o prefeito Emanuel Pinheiro precisa se preocupar com aquilo que foi prometido. Aquilo que prometeu precisa cumprir”. De fato, nada melhor do que escutar o responsável pela campanha. O noivado acabou e a nossa paciência tem limite. Emanuel não pode desperdiçar a melhor oportunidade que já teve de provar que é um bom gestor, não só humano, mas tecnicamente preparado para cumprir o que promete. Emanuel fez um contraponto excelente ao governo estadual mas, neste instante, precisa provar que as promessas não são tão falsas como esmeraldas que circulam por aí.


*Eduardo Mahon é advogado.