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Sábado, 08 de Abril de 2017, 15h:10

Entre ruelas, praças e casarões, Cuiabá resguarda importantes momentos históricos

CAMILLA ZENI

Quem caminha apressado pelos principais calçadões do centro histórico de Cuiabá, com os olhos fixos nas tantas vitrines do comércio, mal imagina por quantas histórias e modificações o local já passou. Assim como quem passa pela majestosa Avenida Getúlio Vargas, importante símbolo de modernidade para a sociedade cuiabana dos anos 40, ou pela charmosa Rua 24 de Outubro, espaço fino e origem de grande poder.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

professora cristiane ufmt

Cristiane Cerzósimo, doutora do Departamento de História da UFMT, fala sobre a Cuiabá antiga

“Cada rua tem um nome, uma memória, uma história”, nos conta a historiadora Cristiane Cerzósimo, do Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

 

Os sinuosos calçadões Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino, como hoje são conhecidos as ruas de Baixo, do Meio e de Cima, respectivamente, são marcos históricos para Cuiabá, pois foram abrigo do primeiro centro administrativo da cidade.

 

“A Coroa Portuguesa tinha o costume de instalar os seus centros administrativos nas partes altas das cidades”, explica a historiadora. Por esta razão, a Rua de Cima foi a escolhida para instalar a parte pública e administrativa da Coroa. Ali, grandes casarões foram construídos pela aristocracia.

 

O nome atual, Pedro Celestino, é uma homenagem ao farmacêutico Pedro Celestino Corrêa da Costa, que governou Mato Grosso entre 1908 e 1922.

 

O crescimento da cidade se deu a partir da exploração dos meios auríferos, inicialmente às margens do Rio Coxipó e depois na região do Morro do Rosário, onde atualmente existe a Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. As lavras de Miguel Sutil logo ganharam fama, em 1722, e gente de todos os cantos chegavam pelo Porto de Cuiabá.

 

Foi nesse importante momento que grandes comerciantes árabes e europeus chegaram à cidade. Com isso, a Rua de Baixo logo se tornou uma via de comércio, onde, com o tempo, importantes famílias se destacaram na compra e venda de utensílios.

 

Atualmente conhecida como Galdino Pimentel, nome do primeiro presidente da província de Mato Grosso, a viela, que aparece nos registros desde 1723, foi palco de grandes momentos da história de Cuiabá e do Estado, como a “Rusga”, revolta entre brasileiros e portugueses. Seus ilustres casarões, com estilos arquitetônicos trazidos por italianos, também abrigaram importantes casas, como a Casa Orlando, primeira instalação bancária da cidade.

 

Entre as importantes vias que marcaram o início da história de Cuiabá, surgiu a Rua do Meio, que leva o nome do engenheiro militar português Ricardo Franco, construtor do importante Forte de Coimbra. Nascida da junção dos quintais da Rua de Baixo e da Rua de Cima, a ruela servia de passagem para escravos, que desciam ao córrego da Prainha para pegar água.

 

Ronaldo Weber/Instagram Cuiabá Antiga

ruas de cuiaba 13 de junho

Imagem da Rua 13 de Junho na década de 1930.

Ainda no centro, outra rua bastante movimentada, também caracterizada pelo comércio, atualmente, é a Rua 13 de Junho. Ligação entre o centro e o porto de Cuiabá, a rua recebeu esse nome em razão da retomada de Corumbá pelo coronel Antônio Maria Coelho na Guerra do Paraguai, em 1867. Antes disso, a rua do comércio era conhecida como a Rua Bela do Juíz.

 

O historiador Aníbal Alencastro nos conta que onde atualmente se localizada a sede dos Correios, na Praça da República, era uma residência que abrigava juízes vindos de outros condados para julgar casos de homicídios. Em uma das vindas, um dos juízes se apaixonou por uma bela cuiabana que morava na mesma rua. A jovem era solteira, mas tinha compromisso marcado com outro rapaz. Quando soube da situação, o jovem enciumado foi tirar satisfações com o tal juiz, que deixou a cidade na primeira oportunidade que tivera. Por conta do fato, assim ficou conhecida a rua onde ambos moravam: Bela do juiz.

 

Séculos à frente, passamos por outras importantes ruas que também guardam momentos históricos da cidade. Como a Avenida Getúlio Vargas, fruto das intervenções que Júlio Muller fez em Mato Grosso, quando foi governador.

 

“Cuiabá era marcada por ruas estreitas, e, ainda no início do século XX, apresentava uma característica do século XVIII”, comenta a professora Cristiane Cersózimo. A Avenida Getúlio Vargas foi, então, parte do pacote de obras para a modernização das cidades, determinadas por Getúlio Vargas, no Estado Novo.

 

Assim, a Rua Poconé, como antes se chamava a via, dá espaço para a primeira grande rua de Cuiabá, em 1940. Em volta dela deu-se o crescimento da cidade, com a construção de importantes prédios, como o Colégio Liceu Cuiabano, e o prédio do 44º Batalhão de Infantaria Motorizada.

 

Ainda na mesma região, ao norte da cidade, a charmosa 24 de Outubro se esconde por entre a grande avenida e a também importante Isaac Póvoas.

 

Reprodução/Instagram Cuiabá Antiga

ruas de cuiaba getulio vargas

Avenida Getúlio Vargas, em 1965.

Conhecida como a “Rua do Poder”, a Rua 24 de Outubro sempre foi um importante espaço da elite cuiabana e é berço de grandes nomes da política mato-grossense, como as famílias Taques, Campos, Canellas e Paes de Barros,

 

O próprio nome da rua é alusão ao poder político, uma vez que é uma homenagem à data em que Getúlio Vargas assumiu o comando do país. Antes disso, a viela se chamava Lava Pés, em lembrança aos garimpeiros que chegavam na cidade pela Estrada da Guia e lavavam seus pés na praça Mãos dos Homens, hoje conhecida como Clóvis Cardoso.

 

Por reunir grandes casarões e importantes galerias e armazéns, a viela é tida como um dos principais redutos culturais e artísticos da cidade atualmente, atraindo muitos visitantes.


Em seus quase 300 anos de fundação, Cuiabá reserva muitas histórias por entre suas vielas, praças e construções, esperando pelo interesse da população em conhecê-las.