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Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017, 08h:40

Ensinamento Sufi

O ser humano, em sua cegueira, imagina ser capaz de possuir e controlar algo cuja natureza é movimento constante

ENILDES CORRÊA

 

Arquivo pessoal

Enildes Corrêia

 

Aceitação da vida de modo incondicional, quer seja com as flores, quer seja com os espinhos, é um dos ensinamentos transmitidos e vivenciados pelos sufis de todos os tempos. Algo difícil de ser entendido e internalizado pelos ocidentais, que, desde cedo, são ensinados justamente o contrário: lutar e tentar impor suas escolhas à vida (ainda que totalmente inconscientes, insanas...). 
 
Muitos confundem aceitação com passividade, principalmente no Ocidente. Aceitação da vida com compreensão faz parte do leque de entendimentos que nos liberta da ignorância, da covardia, do conformismo e da passividade diante de qualquer situação que se apresentar no decorrer de nossa existência. Só os fortes têm coragem suficiente para dizer sim à vida.
 
Em estado de profundo acolhimento de nossa vida, do jeito que é, do jeito que está, nos conectamos com o estado de silêncio interior, entramos em sintonia com o fluxo da vida, e é aí que milagres acontecem. Nossas ações tornam-se mais assertivas, pois passamos a agir sem identificação com as reações ilusórias da mente. Tudo se reorganiza, independentemente da gravidade do problema que enfrentamos, porém, no tempo de Deus e não no tempo do homem, quase sempre ansioso por avistar muitas milhas adiante e ter certezas absolutas sobre o seu futuro.
 
O desejo da mente de querer ter segurança total acerca dos acontecimentos futuros, se contrapõe diretamente à verdade da essência da vida, como expressou o místico sufi indiano Kiranji: "A vida é mudança e movimento. Não há nada permanente na vida. Se há, o tempo todo, alguma coisa se movendo e  mudando, não existe perfeição. Existe movimento. Existe mudança. Essa é a natureza da vida, a qual é insegura, incerta e tem um futuro desconhecido.  A vida é um processo de aprendizado. Você vai de uma aula para a outra. Não há ponto final na vida. É somente movimento até você morrer." 
 
E o ser humano, em sua cegueira, imagina ser capaz de possuir e controlar algo cuja natureza é movimento constante, como as ondas do oceano...
 
Lembro-me desta frase de Kiran K.: ‘’Às vezes, queremos enxergar mil passos a frente, mas a vida só nos deixa ver dez’’. Se houver aceitação dessa condição, a ansiedade é transmutada em confiança, a agonia em serenidade. Assim, guiados pela luz de cada passo conseguimos andar, no mínimo, com menos tensão, mais relaxamento e força vital, o que por si só, já nos livra de uma série de confusões e transgressões conosco e com o outro, além de perturbações e adoecimentos em nível físico, mental e espiritual. 
 
Não é algo fácil nos momentos em que os caminhos se estreitam diante de nossos olhos e os desafios revelam-se mais árduos do que imaginamos um dia nos defrontar, mas é possível, desde que haja compreensão de nós mesmos e  de certas leis da vida. Vale lembrar que a aceitação aciona a força interior e ilumina a nossa visão.  
 
Só a compreensão da vida nos conduz à aceitação. Para compreender o que quer que seja, é necessário ter mantido acesa a chama da capacidade de observação. “A observação o deixa  extraordinariamente vivo. Observar, ver, escutar é aprender", afirma J. Krishnamurti.
 
“Através da observação você começa a compreender a vida. Compreensão significa sua própria sabedoria. O que lhe dá clareza, sabedoria é o seu próprio encontro, a sua  experiência”, alerta Kiranji.
 
Aprender a sentar consigo mesmo sem nenhum propósito, em silêncio, ajuda  de modo extraordinário qualquer pessoa que sinta o anseio de crescer em compreensão, sabedoria e consciência.
 

*ENILDES CORRÊA é Administradora, palestrante, terapeuta Ayurveda e professora de Yoga. Email: [email protected] Website: www.solautoconhecimento.com.br