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Terça-feira, 04 de Outubro de 2016, 15h:52

Segundo turno para abstenções nulos e brancos

Os candidatos não fazem nada de diferente. Pelo contrário, fomentam atitudes impensadas, tomadas no ímpeto do momento

LUCIANO PINTO

 

Marcos Lopes

Luciano Pinto

 

Geralmente as eleições municipais servem como experimentos de um novo contexto eleitoral. Normalmente essa situação era marcada pelo advento de uma legislação recente, que se aplicaria pela primeira vez nas eleições dos prefeitos e vereadores.

 

No pleito do ultimo domingo não foi diferente. Uma recente legislação, marcada principalmente pela ausência das doações empresariais, foi aplicada pela primeira vez em um escrutínio.

 

Mas o que chama atenção dessa vez não é apenas esse tubo de ensaio legislativo. Após uma campanha “the flash”, a população foi às urnas no ultimo domingo em um momento político singular, delicado, sem saber ao certo quais serão os desdobramentos desse universo daqui pra frente. E nesse momento um ponto que se destacou foi exatamente o aumento exponencial das abstenções, votos nulos e brancos.

 

Já há algum tempo o eleitor e cidadão, vem anunciando seu descontentamento com o sistema político. A partir de 2013 várias foram as manifestações da população sobre a representação política e o quanto ela está desgastada. Os números revelam esse “tô me lixando” dos eleitores para os candidatos e para todo o processo eleitoral. O próprio Presidente Michel Temer, lá da Argentina, falou em recado do povo.

 

Fato é que campanhas menores, com menos recursos, aliado à balburdia política que se anuncia diariamente na mídia, é um somatório perfeito de ingredientes que desencoraja os cidadãos a buscar uma solução concreta e rápida para a crise de representatividade democrática que passamos.

 

A eleição de Cuiabá é sintomática e ilustra muito bem essa crise que vivemos. Vamos aos números.

 

Nas eleições municipais de 2012 (confira), a votação do primeiro turno teve abstenção de 16,48%, nulos 3,97% e brancos 2,09%. Na votação em 2016, as abstenções foram 19,91%, nulos 9,36% e brancos 4,28%. Numa simples comparação constata-se que mais eleitores deixaram de ir votar (abstenções), e aqueles que foram votar, mais que o dobro deles, “escolheram não escolher”! Cômico seria, trágico não fosse. O percentual de brancos e nulos mais que dobrou. A figura desse eleitor é aquela que, após descobrir onde se enfiava seu titulo eleitoral (escondido desde 2014), saiu da sua casa num domingo abafado e ensolarado, e foi até a urna pra dizer “nenhum de vocês me convenceu, então exerço meu direito de não escolher”.

 

A soma dos percentuais de abstenções, brancos e nulos alcançou o percentual de 33,55%, equivalente à 127.987 eleitores. Ironicamente, esses números mostram que quem deveria estar no segundo turno junto do candidato Emanuel Pinheiro (primeiro colocado dos votos válidos), é essa turma (abstenções, brancos e nulos), pois o Deputado obteve apenas singelos 98.051 votos.

 

Interessante também é que os candidatos não fazem nada de diferente. Pelo contrário, fomentam atitudes impensadas, tomadas no ímpeto do momento. A ex-senadora Serys comentou no ultimo debate, que verificando o portal do TSE percebeu que o candidato Emanuel Pinheiro, inseriu um plano de governo modelo, utilizado em outras eleições, para outras cidades, sem qualquer menção aos detalhes da cidade de Cuiabá. Sim, se procurarmos na rede facilmente vamos perceber esse absurdo. Já escrevi sobre isso em artigos anteriores (veja aqui), e disso somente posso pensar: é mais do mesmo.

 

Aliás, observando as campanhas, de uma forma geral, me parece que não existe qualquer preparação ou preocupação real com os problemas da cidade. Durante os nobres momentos da propaganda eleitoral gratuita as mais mirabolantes e criativas propostas são vomitadas sem qualquer preocupação com um planejamento verossímil, exequibilidade fática, orçamentária, etc. Justiça seja feita: todos os candidatos lançam mão dessa prática, sem exceção.

 

Enfim, um verdadeiro absurdo e uma irresponsabilidade política. Estamos necessitados de um choque, tal como uma anticandidatura, parecida com aquela de Ulysses Guimarães no ano de 1974, sem compromisso de sucesso, apenas para falar a verdade à população e desmascarar as homéricas promessas. Alguém se candidata?

 

*LUCIANO PINTO é advogado no escritório LP Advocacia. Email: [email protected]