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Cidades Domingo, 07 de Agosto de 2016, 08:10 - A | A

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Domingo, 07 de Agosto de 2016, 08h:10 - A | A

CONDENADO A 115 ANOS

Autor da chacina mais cruel de Cuiabá, "Menino Mau" vira um "bom pastor" no presídio

MAX AGUIAR

Considerado um dos criminosos mais cruéis com registro na história jurídica de Mato Grosso, até os 21 anos, Aclídes Marcelo Gomes, o “Menino Mau” ordenou e participou diretamente de pelo menos 10 homicídios na região metropolitana de Cuiabá. A maioria na região do CPA. Em um dos casos mais horripilantes, a “Chacina do Altos da Serra”, seis pessoas foram mortas, sendo que quatro pessoas tiveram suas cabeças esmagadas com pauladas e o cerébro esfarelhado com pedradas após recebem tiros.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

menino mal

Aclídes prefere não mostrar o rosto, mas aceita falar com a reportagem do HiperNotícias

Hoje, com 37 anos, sendo 15 vividos dentro do sistema penitenciário do Estado, Aclídes se considera uma pessoa do bem e pronto para o retorno extramuros. Liberado pela Justiça Estadual e diretoria do Centro de Ressocialização, o ex-menino mal falou conosco. 

 

Respeitado

 

De Menino Mau, temido e procurado pela polícia, hoje ele é a maior referência evangélica dentro do Centro de Ressocialização de Cuiabá, o antigo Carumbé. Com uma bíblia na mão e completamente descontraído, Aclídes recebeu a reportagem do HiperNotícias dentro de seu cubículo na área evangélica da unidade prisional. De cara, ele afirmou que se arrepende profundamente de todos os crimes que cometeu e que se pudesse pediria perdão para os familiares de todos que ele cometeu algum tipo de violência.

 

“Eu não era viciado, como o povo diz por aí. Eu usava maconha, mas nada muito exagerado. Eu roubava e sempre andava armado, mas não gostava que me desafiassem. Porém, cometi erros. Erros graves e estou pagando por isso. No entanto, me arrependo de tudo. E se pudesse pediria perdão para todos aqueles que fiz chorar”, disse o condenado.

 

Menino Mau, ou apenas pastor Aclídes,  caminha tranquilamente pelos corredores do antigo Carumbé. Por onde passa é cumprimentado e abraçado. “Isso é diariamente. E o melhor de tudo é que não fazem isso com medo, mas sim por respeito”, comenta.

 

Dentro da cadeia possui três igrejas evangélicas. Aclídes cultua em uma delas. Os reeducandos que lá frequentam olham diretamente para o condenado e ouve a pregação.

 

Com muita tranquilidade, Menino Mau pega o microfone e saúda os que ali estão e logo começa as orações. Em tom de voz alta, eles pedem para que Deus os perdoe por tudo que foi cometido e no fim uma salva de palmas é dada com olhares voltado ao céus.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

carubé/CRC

Presos participam de culto ministrado por Menino Mau em igreja dentro do CRC

Aclídes sai da igreja e volta aos corredores e continua atendendo nossa equipe. Para evitar algum tipo de desconcentração, sentamos ao lado de sua cela e lá ele relata como é viver mais de 15 anos dentro de cadeias, se dividindo entre Carumbé e Pascoal Ramos.

 

Passado nebuloso

 

“Eu morava no Pedregal, mas o povo acha que eu sou da região da Morada da Serra. Lá eu só tinha namoradas. Eram seis de uma só vez. Eu nasci em Rosário Oeste e vim pra Cuiabá com nove anos de idade. Vim pra estudar, queria ser advogado. Mas na rua da minha casa tinha traficantes, aliás, um traficantão pesado da época que foi o maior aliciador de me levar para o crime”, relata.

 

“Eu não fazia nada e tinha dinheiro fácil. Eu estava na rua brincando, pediam pra eu buscar ou entregar alguma coisa. Depois que fazia isso, ganhava dinheiro. E isso foi aumentando, de uma droguinha para roubos e enfim homicídios. No começo eu tinha medo, mas depois do primeiro crime eu já fui ficando, podemos dizer, experiente”, detalha.

 

“Aos 13 anos eu já tinha uma arma. Uma garrunchinha. Não separava dela nenhum minuto. Ia fumar maconha, ia armado. Participava de gangue e principalmente tinha meus seguidores, que ajudavam no crime. Eu não era líder ainda. Recebia mandos de crime, fazia, exterminava e depois fugia. Confesso para você que não dormi depois da minha primeira morte, mas depois eu ficava tranquilo. Hoje durmo de cabeça tranquila, ando de cabeça erguida e por isso estou firme na minha missão”, concluiu.

 

Mortes

 

Alan Cosme/HiperNoticias

carubé/CRC

Áclides caminha tranquilamente pelos corredores do antigo Carumbé

“Minha primeira morte aconteceu no CPA. Teve uma briga generalizada, eu estava com minha namoradinha da época. Como as confusões antigamente tinham muito soco, poucos usavam arma eu me afastei, mas eu levei uma pesada. Depois disso, saquei minha garruncha e atirei. Um tiro só e matei um cara. Foi difícil pra mim, mas superei, na época e continua minha carreira”, conta.

 

“Prefiro não ficar falando de todas as mortes que eu cometi. É um passado sombrio, confesso, mas não gosto de lembrar. Já fui julgado e condenado. Podemos falar da chacina, que é o caso que eu mais errei, porém duvidaram de mim. Eu fui lá e fiz a maior besteira da minha vida”, comentou.

 

A chacina

 

Na ocasião, acredita-se que o traficante Edmilson dos Santos Siqueira, que está preso no Centro de Ressocialização de Cuiabá, também virou pastor, ordenou que Aclídes matasse sua concorrente, a traficante Gonçalina Guia Campos, de 35 anos, conhecida como “Simone”, dona de um ponto de venda de maconha, com o preço mais baixo da região.

 

Aclídes e mais dois cúmplices foram ao local onde ocorria a venda de drogas e, enquanto seus comparsas torturavam os fregueses, ele provou a droga. “Fiquei fora de mim”, disse o Menino Mau.

 

Na casa, ele matou Gonçalina e os cinco supostos fregueses. No fim, esmigalhou seus crânios, deixando ali sua marca cruel. Uma pessoa sobreviveu por fingir que estava morta. Além da assinatura deixada, os matou na frente dos dois filhos de Gonçalina – na época com 12 e 14 anos. Eles foram as principais testemunhas da chacina.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

menino mal

Aclídes faz pregação dentro do Carumbé para presos condenados e provisórios

Ao ser preso, Áclides não confirmou o traficante Edmilson como mandante. Disse que teve um desentendimento com Gonçalina porque ela não queria lhe fornecer drogas. “Não queriam me fornecer drogas e ainda duvidaram de mim. O crime naquele dia pra mim foi tão normal, que depois eu fui dormir. Dormi tão bem, como se nada tivesse acontecido” comentou.

 

As vítimas deste episódio foram o pedreiro João Severino da Silva; Eleonice da Costa Oliveira, a “Rosinha” (25); Gonçalina Guia de Campos (35); Antonieldes da Silva Nascimento (18); o travesti Vanderley Kilses, a “Amapoula” (35) e um homem não identificado que teve o corpo carbonizado.

 

Nos autos do processo, o Ministério Público argumenta que Gonçalina foi brutalmente espancada e teve o corpo arrastado para fora da casa. Os assassinos, a mando de Aclídes, enrolaram sua cabeça com arame farpado e a deixaram agonizando até amanhecer. Os policiais e peritos ao saber que o local da chacina era ponto de droga, reviraram a casa em busca de pasta-base, mas nada foi encontrado. O entorpecente só foi  encontrado pela perícia durante a necropsia de Gonçalina: estava dentro de sua vagina.

 

Em 20 de março de 2009, Aclides foi condenado a 48 anos de prisão pela Chacina de Altos da Serra. No dia 09 de outubro de 1999, às 20h30min, Aclides matou a tiros o chapeiro Luciano Rodrigues de Magalhães. Por esse crime foi condenado, no dia 18 de fevereiro de 2011, a 13 anos de reclusão. Além de antecedentes criminais, Aclides conta como crimes supervenientes mais de 10 homicídios, roubos, tráfico e uso de substância entorpecente, o que se somado chega aos 115 anos de reclusão.

 

“Fui cruel, mas não adiantou de nada. Me pegaram e com 21 anos eu estava fora das ruas. Preso e até hoje vivo aqui, dentro de um cubículo, mas aqui dentro hoje tenho uma nova missão: ajudar meus colegas e se arrependerem e tentarem novas vidas lá fora. Chico Xavier sempre dizia: Não podemos voltar no passado e mudar nosso futuro, mas podemos hoje construir um novo começo na nossa vida”, lembrou.

 

De Menino Mau a bom pastor

 

Nascido em 17 de dezembro de 1978, em Rosário Oeste (cidade distante 118km de Cuiabá), se dizia pintor de paredes. Na cadeia, ficou dois anos na Penitenciária Central do Estado e logo foi transferido ao antigo Carumbé, onde faz sua morada há 13 anos. Certo dia um pastor da Igreja Deus é Amor chegou até sua cela e disse que havia recebido uma visão de um futuro melhor para Aclídes.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

carubé/CRC

 

“Naquele momento eu ouvi tudo que ele disse e decidi mudar meu rumo. Fui tocado no coração por Jesus. Fui para o Porto e recebi o batismo nas águas do Rio Cuiabá. Desde então, eu trabalho para o Senhor. Minha vida mudou de verdade. Hoje minha história é exemplo. Eu fiz de tudo na vida e espero que tudo que eu passei seja exemplo para todos que estão aqui. Vários querem uma mudança. Somos execrados pela sociedade, mas sei bem que todos devemos ter mais uma chance de mostrar que somos melhores e podemos fazer o bem. Eu fiz o mal um dia, hoje quero apenas fazer o bem”, comentou.

 

No CRC, o “Pastor Aclides” celebra culto todas as manhãs, com rápidas mensagens bíblicas para os que estão deixando as celas para trabalhar ou fazer cursos nas divisões internas da unidade prisional. Ele conta que lê muito, especialmente a bíblia, e que há 12 anos não faz uso de droga. “Estou limpo”, afirma.

 

Casamento

 

Há quase 11 anos, também mudou sua maneira de se relacionar com as mulheres. Tornou-se monogâmico ou “homem de uma única mulher”, como diz. 

 

“Eu sou casado, tenho três filhos com essa esposa e me dedico a ela. Ela acreditou em mim e está comigo. É preciso ter confiança nela lá fora e ela comigo aqui dentro precisa. Em breve vou sair e pretendo trabalhar. Sei várias profissão. Sou pintor, marceneiro, cabeleireiro, soldador e mecânico. Aprendi tudo aqui dentro e pretendo recomeçar do zero. Mas não pretendo ser pastor lá fora, apenas um seguidor de Cristo”, diz Aclídes.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

carubé/CRC

Apesar de celas com grades, os presos da Ala Evangélica caminham tranquilamente dentro da unidade

Antes de ser condenado, aos 21 anos de idade, relata, já era pai de seis, com quatro mulheres diferentes. “Teve época que eu tinha três mulheres ao mesmo tempo”, narra, com um leve sorriso. 

Desde 2003, quando se casou com uma mulher que conheceu no presídio. Ela visitava um parente. Aclídes diz está decidido a manter uma família tradicional e tentar contribuir com a educação dos filhos. São oito filhos vivo, um foi executado há pouco tempo no CPA. “Meus filhos acham que eu estou viajando a trabalho. Pretendo passar pra eles o caminho do bem. Ainda não sei se vou contar um dia pra eles o que eu fiz. Por isso, não quero que mostre meu rosto. Primeiro a sociedade não vai aceitar, depois meus filhos precisam saber por mim de tudo. Ainda estou me preparando para esse momento”, comentou.

 

Sonho

 

Por fim, a reportagem questiona sobre um sonho. “Tenho um sonho sim: ser aceito pela sociedade. Vou vencer e conquistar isso. Ah, tenho outro: quero espalhar a paz por ai. Talvez um dia escrevo um livro”, comentou.

 

O diretor da cadeia, Winkler de Freitas Teles, também deu sua opinião sobre a vida de Aclídes. “Aqui dentro ele nos ajuda e muito. Posso afirmar, sem sombra de dúvida, que ele está completamente ressocializado”, definiu. 

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Sergio Cintra 08/08/2016

VAGABUNDO CANALHA O QUE É SEU TÁ GUARDADO QUANDO VC PULA VC VAI SOFRER MUITO SEU SER MISERÁVEL.

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adriano 08/08/2016

meu nome é adriano sou trabalhador feirante,fui preso por pote ilegal de arma e fiquei 10 dias presos la ,no carumbé e levei a sorte de cair no cubicolo do pastor acrides,da igreja deus é amor, le ele é respeitado ,la tem doutrina ,ele é um exemplo lá dentro,fui muito bem tratado por ele ,gente boa,e garanto que ele já esta bem ressocializado para a sociedade

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2 comentários

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