Três narrativas simultâneas, três espaços diferentes, mundos imaginários e a compreensão subjetiva de um todo, provocada pelo exercício de preencher lacunas. É desafiada por esse ambiente inventivo, que a plateia cuiabana investiga cada uma das tramas que se desenrolam de maneira fragmentada em um cenário de caixas no qual coexistem personagens em três períodos diferentes de tempo (1938, 1979 e 2011). A partir de suas lembranças de momentos já vistos, cada um dos espectadores pode reinventar a cena sob sua ótica.
Reprodução
Trata-se do premiado espetáculo “O Jardim”, da Cia Hiato (SP), que além de ter sido apresentado em importantes espaços teatrais brasileiros e internacionais será encenado em Cuiabá, no sábado (11) e domingo (12), às 20 horas, no Salão Social do Sesc Arsenal. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é de 16 anos. Vale ressaltar, o espetáculo promove também, acessibilidade a deficientes auditivos.
A companhia paulista, conhecida por abordar deficiências em suas montagens, enfoca este trabalho no estudo da memória. Desta vez, o espetáculo fora concebido a partir do estudo da doença de Alzheimer.
A narrativa falará sobre as memórias perdidas, memórias que nunca se apagam e as memórias inventadas. “Nossa ideia é dar um olhar jovem sobre a fragilidade das memórias que inventamos, das histórias que não nos abandonam, daquelas perdidas no caminho e sobre o que colecionamos em nossas caixas mais secretas”, explica o dramaturgo e diretor Leonardo Moreira. Junto aos atores da peça, participa de bate-papo com o público após o espetáculo, no dia 11 de março. A Cia Hiato também realiza intercâmbio com o coletivo in-Próprio, de Cuiabá, em momento especial que reservaram para trocar vivências. É o coletivo in-Próprio que também realiza a produção local do espetáculo.
A criação
O processo de criação do terceiro espetáculo da Cia. Hiato começou em março de 2010, de maneira colaborativa entre todos os membros da companhia, autor/diretor e atores. A junção do material pesquisado pela companhia e o produzido em sala de ensaio resultou na estruturação de uma dramaturgia inédita, com verticalização das questões estéticas e temáticas abordadas pela Hiato em seus processos criativos e trabalhos anteriores.
“O Jardim” pretende se conectar ao público por meio de uma narrativa múltipla, reinventada pela reapropriação de episódios clássicos da literatura. Um deles é o trecho de “Em busca do Tempo Perdido”, de M. Proust, em que a degustação de um simples bolinho, mergulhado em uma xícara de chá, abre as portas para a memória de uma vida inteira. Outra analogia vem da poesia de histórias ordinárias que saltam dos depoimentos colhidos em visitas a asilos e casas de repouso, um lugar de memórias.
Um dos embasamentos da peça é a autobiografia do neurologista ganhador do Prêmio Nobel Eric M. Kandel. Na obra, são descritos os processos biológicos de memória e aprendizado. Outras fontes de inspiração são as fotografias e a narrativa extremamente emocional do fotógrafo Philip Toledano, além dos escritos verídicos de um esquizofrênico e depoimentos pessoais dos atores-criadores: familiares, lembranças, fotografias e objetos que guardam memórias. Outro guia nesta trajetória criativa é o trabalho com instituições dedicadas ao tratamento e prevenção do Mal de Alzheimer.
“O espetáculo também se apresenta como experiência pessoal, por meio do compartilhamento entre nossa história, a história que inventamos e a história do público. Essa perspectiva gera um olhar sobre o que nos dá a sensação de ‘pertencimento’ e nos conecta às nossas origens”, completa Leonardo Moreira.
A Companhia
A Cia Hiato nasceu em 2008, a partir da criação do espetáculo “Cachorro Morto”, diversas vezes premiado, que projetou o nome de Leonardo Moreira como um dos novos autores de destaque da cena paulista. Os artistas que se reuniram para a encenação de “Cachorro Morto” fundam um projeto de investigação artística, que rende, em 2009, o espetáculo “Escuro”, que recebe cinco indicações ao Prêmio Shell de Teatro 2010 – Autor, Diretor, Cenário, Atriz e Figurino, tendo sido vencedor em quatro categorias (Autor, Diretor, Cenário e Figurino). Recebeu ainda, o Prêmio de Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2010 – Melhor Espetáculo em Sala Convencional, tendo sido indicado a outras quatro categorias (Melhor Autor, Melhor Direção, Melhor Projeto Visual – Cenografia e Iluminação, Companhia Revelação).
O Jardim é a terceira montagem da Cia. Hiato, e teve sua estreia em 2011. Realizou temporada em São Paulo, Rio de Janeiro, passou por importantes festivais nacionais (Brasília cenacontemporânea, Festival de Curitiba, FIAC Bahia/Salvador, Festival de Teatro de Recife, Aldeia Velha / SESC Goiânia, Festival de Teatro de Londrina, Festival de teatro de Vitória, entre outros). Na cena internacional, participou de diversos festivais além de cumprir temporada em teatros de destaque: Under The Radar/Nova York, Festwochen / Viena, Kennedy Center/Washington DC, Atenas Transition II: Latin Amerika Atenas/Grécia, Santiago a Mil /Chile, Ervaar Daar Hier Festival (Turnê por 07 cidades da Holânda, entre elas, Amsterdam, Rotterdam e Utrecht), Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá/ Colômbia, HAU-Berlim/Alemanha, FRAN LAB-Mousonturm /Frankfurt e Projeto Brasil / Dresden / Alemanha.
O espetáculo apareceu em todas as listas de Melhores Espetáculos em Cartaz da imprensa paulista, foi descrito como um espetáculo “memorável”(Bravo!) e Leonardo Moreira foi descrito como “o nome mais promissor da atualidade” (Veja São Paulo). O espetáculo recebeu o Prêmio Governador do Estado; Leonardo Moreira recebeu o Prêmio APCA pela direção; foi vencedor do Prêmio Shell 2011, nas categorias Melhor Autor e Melhor Cenário; Prêmio CPT - Cooperativa Paulista de Teatro:Melhor Autor e Melhor Espetáculo; e o Prêmio Questão de Crítica: Melhor Figurino, dentre as 7 indicações Dramaturgia, Direção, Atriz Figurino, Cenário, espetáculo e elenco;
FICHA TÉCNICA
O Jardim: uma criação da Cia. Hiato
Dramaturgia e Direção: Leonardo Moreira
Elenco: Aline Filócomo, Fernanda Stefanski, Luciana Paes, Maria Amélia Farah, Paula Picarelli, Thiago Amaral. Ator Convidado:Edison Simão
Coordenadora de Produção/Gestão: Aura Cunha
Assistência de Direção: Amanda Lyra
Cenário: Marisa Bentivegna
Assistente de Cenografia: Ayelén Gastaldi e Cezar Renzi
Desenho de Luz: Marisa Bentivegna
Música Original: Marcelo Pellegrini
Figurinos: Theodoro Cochrane
Objetos Cênicos: Victor Merseguel
Efeitos Especiais: Pepe Scrofft
Fotos e vídeos: Otávio Dantas
Criação Gráfica: Cassiano Tosta - DGRAUS
Produção executiva: Yumi Ogino
Produção Geral: Elephante Produções Artísticas
Produção Local: Daniela Leite e Karina Figueredo (in-Próprio Coletivo)
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