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Cuiabanália Sábado, 08 de Abril de 2017, 08:17 - A | A

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Sábado, 08 de Abril de 2017, 08h:17 - A | A

DÉCADAS DE 50 E 60

Muito além dos embalos de sábado à noite - em Cuiabá, “tudo é motivo para festa”

CAMILLA ZENI

“O cuiabano é alegre e festeiro”, relatou o explorador e antropólogo alemão Karl Von de Steinen, quando aqui esteve em expedição, ainda no século XIX. Características que, conforme conta o professor Aníbal Alencastro, se misturam com a história e a identidade da capital mato-grossense. Ao HiperNotícias, o historiador fala das noitadas cuiabanas com alegria e lembra das interações sociais da década de 1950,  sua mocidade.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

aníbal alencastro

 Professor de história Aníbal Alencastro relembra festanças de Cuiabá de1950.

As ruas e as praças, costumeiramente pouco movimentadas, ficavam lotadas de jovens à noite. Os espaços públicos eram os locais de festa da época. Segundo o professor, nas décadas de 1950 e 1960, Cuiabá já era uma cidade de interior com ares de modernidade. E a vida noturna, recheada de programações.

 

“A noitada cuiabana sempre foi agitada e a juventude toda participava”, comenta Aníbal. “Toda noite você tinha que descer para ir ao cinema, ir na praça, ou ir aos clubes dançar”.

 

Sem faculdades na época, os jovens cuiabanos eram obrigados a estudarem em outros estados, longe da família. O principal destino? O Rio de Janeiro, grande influenciador das festanças na capital de Mato Grosso. 

 

“O cuiabano ia estudar no Rio e vinha passar as férias aqui”, explica. Era de lá que saíam as novidades de entretenimento. “Quando os estudantes retornavam na época de férias, a cidade lotava, todo mundo se reunia e fazia a festa”.

 

“Esse movimento que acontece na Praça Popular hoje em dia era ali na Praça Alencastro e no Bar do Bugre, na década de 60”, comenta o historiador, lembrando que a praça onde está instalada a Prefeitura municipal era o maior ponto de encontro dos cuiabanos.

 

Reprodução/Instagram: Cuiabá Antiga

praças cuiaba republica

 Vista das praças da República e Alecastro na década de 1960

 

“Ali, toda noite se tinha a presença da juventude. Das 19h até as 21h eles estavam sempre ali, rodando as passarelas. E às 21h eles iam no cinema, no Cine Teatro Cuiabá. Quando acabava a sessão, voltavam para a praça de novo”, relembra Aníbal.

 

Próximo ao point da garotada, o Cerô, única sorveteria em Cuiabá, também se enchia de jovens. E o atrativo Bar do Bugre oferecia a sinuca como opção de diversão. “Naquela época era muito bom. Não tinha perigo e todo mundo se conhecia. Você saía e sempre encontrava alguém conhecido”, recorda.

 

Os clubes

Como as boates dos dias atuais, os clubes também embalavam as noitadas cuiabanas.

 

Idealizado pela professora Zulmira Canavarros, o Clube Feminino foi o primeiro a ser fundado, na década de 1940. Funcionava na esquina da Campo Grande com a Barão de Melgaço. Era ali que se realizavam os bailes e eventos importantes. E onde circulavam os figurões da cidade.

 

Reprodução

dom bosco

Clube Dom Bosco era famoso até mesmo fora de Mato Grosso

“Lá era um clube de elite. Para entrar, era preciso até ir de terno e gravata”, lembra Aníbal, que já foi frequentador do local. Dirigido e organizado pelas mulheres, clube permitia a presença masculina, uma vez que as damas precisavam de parceiros para os bailes. “O Clube Feminino foi um espaço importante para a mulher, porque era um momento em que a mulher não aparecia; nem votar ela votava”, explica o professor.

 

Outros clubes vieram em seguida, como o clube Mixto, também fundado por Zulmira Canavarros, que hoje é o clube de futebol. Espaços como o Grêmio Antônio João, criado pelos militares, e o clube Dom Bosco, frequentado pela elite cuiabana, também foram importantes para a interação social da época.

 

“O Grêmio era um espaço mais sério. Tinha uma reverência. Era para a elite militar. Os tenentes estavam sempre presentes ali”, conta o historiador. Já o clube Dom Bosco era justamente o oposto: mais liberal.

 

As casas de baile logo se espalharam pela cidade e atraíam públicos distintos. O clube Náutico, localizado no bairro do Porto, foi um lugar importante para a disseminação de cultura na capital. 

 

Não apenas agitado em épocas de carnaval, o clube Náutico sempre reuniu gente de todos os lugares e públicos de todas as idades. “As matinês nos domingos eram lá e todo mundo ia dançar”, conta o historiador, se recordando de um fato engraçado da época. “Acontecia que você chegava lá pra dançar com as menininhas, mas os várzea-grandenses não gostavam. A rapaziada colocava a gente pra fora. Eu, várias vezes, saia do clube de carreira, porque senão eles nos pegavam”.

 

Reprodução/Instagram: Cuiabá Antiga

praças cuiaba cine teatro

Fachada do Cine Teatro, na Avenida Getúlio Vargas

Outro espaço que também agradava aos jovens naquela épora era o Clube Operário, localizado na Avenida Barão de Melgaço.

 

"Era uma mistura de gente, da área popular, o Clube era da pobreza mesmo. Todo mundo ia. Eu mesmo frequentei", revela o historiador, que se mostra uma pessoa ativa no movimento social cuiabano na época.

 

Além de clubes e praças, a noite cuiabana também oferecia cinemas e bares. Não havia tempo ruim para quem queria badalar. Segundo Aníbal, a população pegava um ônibus, simples e pequenininho, e ia para o bairro do Porto. Lá, assistia os espetáculos do Cine São Luís, que era o maior da cidade.

 

No centro de Cuiabá, o Cine Teatro era a sensação, trazendo artistas de fora, como Angela Maria e o trio Los Panchos, permanecendo ainda nos dias de atuais como reduto cultural cuiabano. Mais tarde, na mesma década, inaugurou-se o Cine Bandeirantes e o Cine Tropical, pontos de encontro da juventude. 

 

O Cine Tropical, localizado onde hoje se encontra o banco Bradesco, na avenida Barão de Melgaço, era o mais chique da cidade. "Lá tinha um jardim interno com um palco, onde Jacinto de Jesus e sua banda se apresentavam nas quintas e domingos. Todo mundo ia para assistir", conta Aníbal.

 

 

 

Deu Samba 

A vida boêmia cuiabana também abrangia os bares. E a curtição começava cedo, principalmente quanto tinha o popular jogo de futebol, aos sábados e domingos, conforme relembra o historiador. "A turma sentava no barzinho, no Bar do Calil, que só vendia batidinha, na Barão de Melgaço. Ali ficavam à tarde, à noite e até a madrugada. Depois do jogo vinham os violões, se tocava, cantava. A nossa noite era maravilhosa. E esse calorão também ajudava no consumo de cerveja", comenta.

 

Na avenida Getúlio Vargas, um dos locais mais frequentados era o Bar Internacional. ”A turma passava a noite toda alí. Falavam que lá era a academia dos boêmios, porque ali que se fazia poesia", se recorda o historiador. Segundo ele, foi lá onde surgiu a primeira escola de samba de Cuiabá: a Deixa Cair, idealizada no final dos anos 60.

 

"A escola foi muito importante pra nós, porque até então só tínhamos os blocos e cordões", conta Aníbal. A ideia também foi importada do Rio de Janeiro. A princípio, as moças cuiabanas não aceitaram participar, porque envolvia o desfile de biquini, que era impensável para a época. Chegaram a sugerir que se usassem máscaras, mas a ideia não foi aceita, uma vez que ficaria diferente das escolas do Rio. No fim, os idealizadores convidaram as dançarinas de boates para serem as primeiras mulheres a desfilarem na escola de samba. "A Deixa Cair foi um sucesso, abalou Cuiabá", comenta. Por cerca de dez anos, a Deixa Cair reinou no carnaval cuiabano, fazendo a festa da população, até que surgiu a segunda escola de samba, a Mocidade Independente.

 

Sayonara: da beira do rio ao sucesso

  

Reprodução

sayonara

 

Um lugal igualmente importante para a noitada cuiabana foi o espaço Sayonara, inaugurado em 1959. "Foi um ponto de encontro muito importante. O reveillon lá era inesquecível", se recorda Aníbal, que carrega diversas recordações do local.

 

À princício, o Sayonara começou como um balneário, às margens do Rio Coxipó, com suas àguas cristalinas. "O pessoal ia tomar banho no rio de manhã e a noite já ficava e curtia. 

 

Era um local popular, por ser mais afastado do centro", comenta. Depois, incorporou-se um bar ao local, que, por fim, se tornou uma boate, que durou até 1989. O sucesso foi marca do espaço, que já chegou a reunir mais de duas mil pessoas em suas noitadas.

 

Balada atual

 Para Aníbal, as mudanças que aconteceram em Cuiabá, com o tempo, foram boas para a população. “A gente nota essa mudança toda e vê que é vantagem para a gente, sim. Hoje em dia tem muito mais opções para ir. Tem mais bares, tem os clubes, as áreas de lazer, e nós não tinhamos isso naquela época. Ou vinha pro Porto ou ia para o Centro", conta.

 

Com mais de 580 mil habitantes, atualmente a cidade vive outro momento da vida noturna. A produção cultural é grande, mas carece de infraestrutura e incentivo. Mesmo assim, artistas, músicos e, claro, o público agitado não deixam a festa acabar. 

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Benedito Fernandes de Souza 08/04/2017

Ah! Os cuiabanos chegavam cedo à porta do cinema para trocar gibis. Não sem antes passar na Sorveteria Ibiá, onde eu acompanhava o cara que podia pagar a despesa, o hoje médico cardiologista Dr. Fernando Martins da Silveira, com a grana emprestada (sic!) da saudosa Exatora Zara Martins da Silveira. Que agradáveis lembranças me chegam à memória neste momento, ao ler o que escreveu Aníbal Alencastro. O pintor de cartaz era só um pintor e hoje é um renomado artista plástico, o Vítor Hugo.

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