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Colunistas Sexta-feira, 21 de Abril de 2017, 18:07 - A | A

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Sexta-feira, 21 de Abril de 2017, 18h:07 - A | A

Ventania

ARIADNE CAMARGO

Edson Rodrigues

Taynara_Pouso

 

Hoje as ventanias são comuns. Eu disse hoje? Ledo engano pensar que só nesses tempos é que os tumultos do dia-a-dia atropelam a gente. Rotina sempre foi um redemoinho que engole tudo o que vê discretamente, sem que ninguém perceba que está sendo engolido. Quando alguma coisinha de nada rompe o ciclo, aí é que o bicho pega mesmo. 

Imagine que todos os dias você acorda no mesmo horário, toma seu café da manhã do mesmo jeito e depois segue o dia quase sempre da mesma forma. Então, no meio do seu trajeto, uma ponte cai e você fica impedido de seguir o dia. Eis aí uma bela ventania. O turbilhão começa a fazer morada na sua cabeça. São pensamentos incessantes e repetitivos do tipo "Vou me atrasar", "quem vai abrir a porta? Ficarão todos esperando!" "Que saco, logo agora?" E sem que você possa fazer mais nada, a não ser ouvir rádio ou ficar zapeando nas redes, o seu dia simplesmente azeda e a ventania passa deixado a sujeira toda pra você. 

Há outro tipo de ventania mais séria, tipo quando o pai descobre que o filho adolescente resolveu tomar um porre com os amigos e ele foi obrigado a buscar o moleque no hospital porque correram com ele pra lá por medo de coma alcoólico. Aí o pai preocupado nem lembra que já causou um estrago desse no tempo dele, recolhe o menino e dá logo o sermão seguido do castigozinho básico, como se isso fosse resolver alguma coisa. Pode até ser que o garoto respeite a bronca e evite repetir a cena por causa do castigo, mas é evidente que não é isso que vai fazê-lo perder a vontade de encher a cara. O que muda mesmo essa vontade são as ventanias que o próprio rapaz vive, já que os prejuízos pra ele são, certamente, maiores. Difícil é o pai conseguir mostrar isso pra ele. A tormenta tem que ser de cada um!

Há aquelas ventanias mais particulares, que trazem à tona feridas muito antigas do sujeito. Vivências que ele achou que já tinha até esquecido, mas que são dolorosas feito farpa enfiada na pele, cheia de pus e sangue. Essas aí, com certeza, tiram o cara do eixo, fazem chorar, dão vontade de quebrar tudo que tiver pela frente, ou o sujeito só tem coragem de se enfiar embaixo da coberta e morrer lá mesmo, sem cerimônia! 

Penso que de todas as tormentas cotidianas, essas íntimas são as mais produtivas porque, como tiram do prumo mesmo, obrigam a repensar o caminho, a olhar no espelho, a reconhecer a si mesmo a assumir a responsabilidade, além das muitas outras avaliações possíveis a partir de um vendaval desses! Lógico que não é nada fácil, os tremores são tão fortes, bagunçam os cabelos, as relações e a própria rotina, mas tal qual a terra que precisa ser revolvida às vezes para que as plantas sejam mais fortes, nós também precisamos de um chacoalhão desses de vez em quando para voltar a viver! 

 

Sou Ariadne Camargo, inquieta mulher de 33 anos, observadora das sutilezas da vida, esposa e mãe em constante construção, professora encantada com a agitação adolescente, empenhada em contribuir para o pensar e existir genuíno de jovens com quem tenho e tive o prazer de conviver e com os quais aprendo, aprendo e aprendo!

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