Não vou parar

Edson Rodrigues

 

Todos os dias eu escuto: "E aí Taynara, vai fazer textão hoje?" E quando eu faço sempre escuto: "Lá vem ela com o textão, você não cansa? Isso que você escreve não vai mudar nada". Já houve vezes em que amigos próximos me falaram coisas desse tipo e eu respondi: "Senhor, me bloqueia, porque eu NÃO vou parar". Ainda que eu responda, parece que sempre estou sendo colocada em dúvida, sendo testada, e quando me imponho mais energicamente, acabo escutando que sou grossa.

Incrivelmente, cem por cento dos que me fazem tais questionamentos são homens. Sem brincadeira. Todos são homens e não, não é implicância, é constatação. São eles os que "botam" medo, os que fazem brincadeirinhas escrotas, os que questionam como meu namorado aguenta. São eles que me perguntam - em tom muitas vezes irônico - se meus pais são, assim, como eu. Como não seriam, mores? Eu fui criada por eles.

São os homens que, perceptivelmente ou imperceptivelmente, querem me calar. Querem nos calar. E é estranho como a gente tem mania de sorrir para essas ironias, de tentar mascarar tudo isso e nos forçar a entendê-los.

NÃO! Eu, definitivamente, não vou parar. Não vou parar de escrever, nem de falar o que penso, nem de ler o que gosto, nem de discutir, nem de ficar brava quando acho que devo. Não vou parar de me interessar por política e discuti-la, não vou parar de defender o movimento LGBT e o movimento NEGRO, pois, sabendo dos meus privilégios, eu tenho a real noção do quanto esses movimentos lutam. Não vou me comportar da forma como acham que devo, nem me casar por obrigação, nem ter filhos porque essa sociedade decidiu que só assim serei mulher de verdade. Não vou parar de me depilar só porque alguns (idiotas) acham que pra ser feminista eu preciso lhes dar uma prova física e nem vou deixar de ser feminina quando EU quiser ser.

NÃO VOU PARAR, porque meus pais, principalmente, minha mãe, minhas irmãs, minhas tias, minhas avós, minhas amigas, minhas mulheres, me ensinaram que não se desiste fácil do que se quer tanto. E eu quero ser ouvida sim, compreendida e me sentir representada. Quero que outras se espelhem em mim SIM, e saiam dessas cascas, das cavernas do machismo, se imponham, mostrem quem são e a que vieram.

Em contrapartida (ainda bem), existem essas mulheres que me dão força para continuar. Muitas que permeiam minha vida, outras que conquistei nas redes sociais, outras que me conheceram através desta coluna e hoje me param na rua para conversar (não sou famosinha, ok?). São elas e, também, vários homens que estão tentando se desconstruir, que eu agradeço. Já ouvi tantos e tantos desabafos que vocês, talvez, nem imaginem. E são muitas dessas histórias que vocês me contam que me dão vontade de seguir em frente, que me estimulam e me motivam. Os que acham que me "zoam" nem conseguem imaginar o meio em que estou e nem quanta coisa boa tenho ouvido, então, tudo o que eu escuto deles se torna ínfimo, pequeno, e sem valor.

Ser mulher é difícil não por ser mulher, mas porque muitos homens não têm noção do quanto dificultam nossa vida. E alguns nem tentam disfarçar e/ou melhorar. É complicado entender e mais complicado ainda é aceitar que se é machista, mas antes de me criticar, ou criticar outras mulheres, se olhem no espelho, procurem reavaliar suas condutas e dizeres, e, se acharem erros, tentem melhorar. A busca da evolução é para todos, não é uma questão de superioridade e sim de equilíbrio.

Quando uma mulher apontar comportamentos machistas em você, não desanime e nem espane, fique firme, busque escutá-la. Não precisa acatar tudo o que ouvir, mas quando você escuta, você se organiza, você se posiciona de forma mais bonita perante a vida.

Eu não vou parar de lutar pelos meus direitos e nem pelos direitos das minorias e não adianta tentar me podar, fingir que não me escuta e nem sapatear, porque eu vou continuar aqui. Você me bloqueando ou não, você querendo ou não, e a minha voz, hoje eu tenho essa certeza, está por aí, batendo no coração de outras como eu. E elas estão por aí, experimentando serem livres, e MAIS, gostando de serem.

Nós não vamos mais parar, avante sempre.

Taynara Pouso de RG, publicitária de formação, cacerense de nascimento, cuiabana de coração. 26 anos, faz textão, é de movimento, é de ação.