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Colunistas Domingo, 18 de Junho de 2017, 19:16 - A | A

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Domingo, 18 de Junho de 2017, 19h:16 - A | A

Elogio à fotografia

ARIADNE CAMARGO

 

Edson Rodrigues

Taynara_Pouso

 

A fotografia é uma arte! É bem verdade que a fotografia é uma manifestação artística curiosa e múltipla, uma vez que pode despertar emoções diversas, congelar momentos, eternizar vivências. Mas é verdade também que a fotografia é sempre um fragmento. Talvez por isso mesmo a foto seja tão representativa da vida, porque muitas vezes a vivemos de forma fragmentada, de modo que cada pedacinho forma um inteiro.

Há que se fazer aqui uma diferenciação para que fique bem claro de que tipo de fotografia estamos falando. Não me refiro, obviamente, àquelas fotos plásticas, que falsificam a vida a cada clic em função de um número infinito de curtidas. Lógico que essa é uma das funções contemporâneas da foto: dizer ao mundo virtual o que não somos de verdade. Esse lugar perverso que a fotografia ocupa hoje nos perfis das redes sociais é o que faz com que a falta de harmonia no lar ou na vida seja encoberta pelo sorriso de plástico. Os selfs cotidianos não pretendem necessariamente guardar na memória um momento maravilhoso, na verdade, eles servem para dizer aos outros que estamos muito bem na praia maravilhosa, que visitamos uma cidade lindíssima no interior da Europa, embora nem se saiba o nome dela e nem se tenha ideia de quantas histórias aquele monumento guarda, o importante é que ele é um ótimo pano de fundo para o sorrisão de mentira.   

Hoje muitas pessoas usam as fotografias para criar uma realidade que não vivem, quem sabe na intenção de sentir, por um momento, como seria viver daquela maneira. Como atores de novela, vivem papéis determinados pelo tipo de postagem que fazem nas redes, produzem festas com decorações dignas de milionários, ainda que falte comida em casa, apenas para aparecerem nas fotos, nem importa se a vivência foi mesmo prazerosa, montam uma pose legal com um livro em mãos sem nunca ter lido uma linha, o que vale mesmo é parecer.

Felizmente ainda há, neste mundo líquido, aqueles que vivem de verdade e, acredite, são muitos. Como o importante para essas pessoas é viver mesmo, pouco tempo elas têm de se exporem nas redes porque estão libertos da obrigação de dar satisfação aos outros das próprias alegrias ou tristezas. É por esse prisma que vejo a fotografia como uma arte que, por fragmentos, pode trazer inteiros.

Um momento vivido e sublime pode ser capturado por uma lente e trazer a outros o sabor daquela vivência. Para quem estava lá, é um refresco para a memória, já tão entulhada por milhões de informações “importantes”. A foto traz de volta a lembrança e, junto, pode vir também a alegria, a intimidade, a leveza ou a dor e o pesar do momento, do jeitinho que ele teve mesmo. Um fragmento traz o todo. Para outros, que não viveram o registro, a fotografia pode ser infinita, uma vez que é possível supor o que ocorreu antes e depois, quem eram os envolvidos, que emoções estiveram ali.

No lugar de arte, a fotografia pode registrar um “eu te amo” à beira do fogão, a gargalhada de uma surra de cócegas, o frio que dá nos pés com a água gelada, a semente sendo colocada na terra, o fascínio do olhar de uma criança diante de um cavalo, o som de um pássaro buscando abrigo para a noite.

O registro será sempre um fragmento e o vivido é que fotografa na memória do ser a emoção e a verdade daquele momento. O calor daquelas mãos que seguram as suas em momento de dor só ficam registrados na memória mesmo, embora a foto das mãos possa trazer de volta a sensação de acolhimento. As alianças trocadas na hora do “sim” podem ser capturadas pelas câmeras, mas as lágrimas nos olhos e a alegria no coração só serão sentidas se tiverem sido realmente vividas. A dancinha na cozinha, o banho de piscina no churrasco de domingo, o acordar descabelado e o abraço de pijama só importam na foto quando a emoção existiu mesmo. A brincadeira com as crianças, o pôr-do-sol a dois, a taça de vinho e o livro gostoso vão para a foto e a transformam em arte quanto a verdade é capturada, aos poucos, pelas lentes do fotógrafo.

É aí que o pedaço vira inteiro, a memória toma fôlego e o coração vibra outra vez.

 

Sou Ariadne Camargo, inquieta mulher de 33 anos, observadora das sutilezas da vida, esposa e mãe em constante construção, professora encantada com a agitação adolescente, empenhada em contribuir para o pensar e existir genuíno de jovens com quem tenho e tive o prazer de conviver e com os quais aprendo, aprendo e aprendo!

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