Fernanda era jovem e vinha de relacionamentos esquisitos na vida. Em viagem ao Rio, encantou-se com o Cristo, com o Pão, com Ipanema e com… Luísa. Ficaram. Transaram. E foi muito gostoso. E a cidade dos encantos mil de repente se resumiu a apenas um. Fernanda voltou para Cuiabá querendo conhecer mais a bela moça, e o sentimento pareceu recíproco.
Passadas algumas semanas de conversa, Luísa disse a Fernanda que não gostava de ficar com várias pessoas, e que prezava pela exclusividade em seus relacionamentos. Fernanda, movida por misterioso sentimento, imediatamente cortou toda e qualquer relação romântico-afetiva, presencial ou a distância, com outras mulheres. Ela havia gostado de Luísa a ponto disto.
Fernanda, no entanto, sabia que relacionamento a distância era difícil. Havia o desejo do toque. Do calor do hálito. Do olho no olho. Lábio no lábio. Corpo no corpo. Incluiu, assim, viagens mensais ao Rio em sua rotina, a fim de se encontrar com a moça que tanto mudou seu pensamento. Descobriu, por fim, que foi a única a levar a exclusividade a sério.
“Era uma surpresa para ela, Pedro”, queixou-se Fernanda.
“E foi você a surpreendida.”
“Ela se chamava Carla e estava usando a minha camisola.”
“Fernanda, é uma pena….”
“O que ela tem que eu não tenho?”
“Fernanda, …”
“E aqueles peitos caídos?! E aquela flacidez toda?!”
“Fernanda! É uma pena que você esteja passando por isso. Sua dor é imensa. Mas não lamento pelos seus sentimentos. Eu ficaria surpreso se você não estivesse nervosa ou frustrada. Pior seria perder a sensibilidade. Você se importava. Você amava.”
“Amar é um termo muito forte. Eu estava ficando. É bem diferente.”
Talvez Fernanda estivesse errada. Ficar também é uma forma de amar. Talvez não seja a mais idealizada, mas é amor. Talvez não seja a forma mais romântica ou poética, mas é o amor que temos hoje. E esse jeito de amar tem a sua importância.
“Você amava, Fernanda”, disse Pedro. “Não que fosse sua intenção casar-se com Luísa e com ela ter filhos. Mas vocês partilhavam companhia. Partilhavam nudez, carícias e intimidades. E você, em especial, criava expectativas, mesmo que pequenas. Desvalorizar o que se perdeu é um mecanismo de defesa.”
“Tá, então eu amava”, respondeu Fernanda, afobada. “O que eu faço com esse amor que ainda sinto por Luísa?”
“Pode doer — e vai — o que vou te dizer. Você só será livre quando compreender que este amor que ainda sente não é mais seu. Mas o amor nunca se perde. Ele espera, em silêncio, num fundo de armário, como já cantou Chico Buarque. Amarão com o amor que você deixou. E você amará, também, com o amor deixado por outros.”
*MARCELO DANTAS RIBEIRO é bacharel em Direito pela UFMT. [email protected]
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Léo Silva 13/01/2017
Meu querido amigo, escreves muito bem.
Bruno Cesar 13/01/2017
Amei!!! Lindo texto.
Jeani Souza 12/01/2017
Adorei!"
Jeani Souza 12/01/2017
Parabéns, querido!
Joel Filho 12/01/2017
Gostei bastante
Gustavo Pael 11/01/2017
Parabéns pelo texto
Amanda Lima 11/01/2017
Que reflexão linda!!!
7 comentários