Duas mortes de crianças e uma agressão contra irmãos que estavam vendendo paçoca para ajudar os pais na Praça Popular chamaram atenção da mídia e da sociedade em 2016.
A primeira morte ocorreu em maio após um menino de 10 anos sofrer bulling na escola. Já no segundo caso o acusado estava dentro de casa.
Após sofrer espancamento cometido pelo próprio pai, um menino de cinco anos deu entrada no Pronto-Socorro de Cuiabá com dilacerações no fígado.
A agressão ocorreu na tradicional Padaria Viena, instalada em uma área nobre de Cuiabá.
Tirou a própria vida
O caso da criança de 10 anos aconteceu no dia 14 de maio. O corpo do menino foi encontrado pela mãe pendurado em um cinto dentro do guarda-roupas.
Após um mês de investigações o delegado Eduardo Botelho, titular da Delegacia Especializada em Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) tratou o caso como resultado de bullyng praticado contra a criança.
Em depoimento ao delegado a mãe do menino, Erica Modesto, disse que o filho reclamava que era chamado de macaco, neguinho e saci, por outras crianças da escola.
Por ser negro, ele era vítima de atos preconceituosos e sempre reclamava aos pais que era chamado por esses apelidos.
O delegado então desconfiou que esse fosse um dos motivos. “Ela (criança) reclamava que era apelidada pelos coleguinhas de escola e que era chamado de neguinho e de saci. Isso foi relevante nesse caso para que ocorresse o suicídou por ser vítima de bullyng", comentou o delegado.
Espancamento e morte
O menino Hugo Gabriel Augusto Gomes, cinco anos, teve a morte confirmada por volta das 11h do domingo (21 de agosto), pela equipe médica da ala vermelha do Pronto-Socorro de Cuiabá. O menino havia sido hospitalizado no sábado sob suspeita de trauma de crânio. A família, que mora no mora no bairro Doutor Fábio 2, comentou que a criança caiu da cama. Motivo que não foi acatado pelos médicos.
Segundo familiares, a criança teria acordado por volta das 3h da madrugada e dito que caiu da cama e bateu a cabeça. Foi encaminhada para a Policlínica do Planalto, onde passou a convulsionar. Em seguida foi removida para o PS, onde o quadro se agravou, evoluindo para o óbito.
Segundo o delegado Marcelo Jardim, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que esteve no hospital acompanhando a liberação do corpo, os médicos disseram que a vítima apresentava lesões internas, inclusive com laceração do fígado, reforçando a suspeita de agressão. O corpo foi encaminhado para necropsia, junto ao Instituto Médico Legal (IML).
No primeiro depoimento sobre o caso, o avô da criança comentou apenas que sua filha havia dito a ele, dias antes, que suspeitava que o menino estivesse sofrendo abusos sexuais.
O último a ficar com a criança teria sido o pai do menino, identificado como Eleoni Luiz de Almeida. A Polícia descobriu que ele teria espancado a criança, porém usado métodos que não deixa marcas externas.
"O pai batia na cabeça do menino com socos e espancava ele dando porrada e chutes no estômago, mas para não deixar marcas ele usava travesseiros. Batia em cima da almofada, fazendo a lesão ser apenas interna. No sábado, a mãe saiu de casa e ao retornar o menino já havia sido espancado e estava desmaiado. Posteriormente, ele morreu. Valeu ressaltar que os espancamentos eram constantes", comentou o delegado Jardim.
O pai do menino Hugo Gabriel foi detido perto da rodoviária de Sorriso, a 420 km de Cuiabá. Uma denúncia anônima indicou aos policiais militares que o pai da criança estaria naquele local. Na delegacia, à imprensa, o pai do menino negou que espancou o filho. “Eu jamais espancaria meu filho, não com agressão ou coisa parecida. A verdade vai aparecer e tudo vai ser esclarecido. Não fui que espanquei ou o matei”, declarou Eleoni.
Caso Viena
No dia 9 de abril dois irmãos que estavam vendendo paçoca foram agredidos na Padaria Viena, instalada nas imediações da Praça Popular, em Cuiabá. O ato foi cometido por um segurança do local e causou grande comoção, principalmente nas redes sociais após a postagem de uma testemunha.
No dia da agressão, o menino estava na companhia de outros dois garotos, de 13 e 14 anos. Os três seriam vendedores ambulantes e foram encontrados após uma denúncia.
As três crianças, sendo que os dois meninos mais velhos são irmãos, teriam entrado na padaria para vender paçoca e uma delas foi agredida com socos pelo funcionário. O segurança foi encontrado na cidade de Juara, a 690 km de Cuiabá, prestou depoimento e segue em liberdade.
O pai do garoto de 12 anos que sofreu a agressão também foi encontrado depois de uma denúncia. O pai trabalha como vigilante em creche no bairro Jardim Industrial. Ele disse que tem nove filhos, que ganha cerca R$ 1 mil por mês. Também relatou à polícia que os filhos maiores ajudam nas despesas da casa vendendo pães e doces.
O caso ganhou repercussão depois que a história foi publicada no Facebook pelo empresário e estudante de direito, Willian Gama, de 22 anos, que testemunhou o ocorrido. Gama contou que estava na padaria com outras três pessoas quando viu três meninos chegando. Dois deles entraram na padaria, compraram o que parecia ser um pedaço de bolo, e ocuparam uma das mesas do lado de fora para comer.
Enquanto isso, o menor deles ficou oferecendo paçoca aos clientes. Depois, entrou na padaria e uma mulher se dispôs a pagar o que ele quisesse consumir. O menino escolheu, ela pagou e quando a criança estava saindo do comércio recebeu um murro de um dos funcionários na região da cabeça, relatou o empresário. Logo após se levantar, a criança recebeu outro murro, também na região da cabeça. O empresário e os amigos chamaram a Polícia Militar.
O empresário Hernando Brito, dono da Padaria Viena, afirmou que o segurança que teria agredido um menino foi demitido imediatamente após o fato. Por meio de nota enviada à imprensa, ele afirmou estar indignado com o caso.
Atualmente as crianças continuam fazendo ambulante para ajudar em casa.
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Rodrigo Rosa 09/10/2017
Chocante mesmo! Parece que aí no MT as coisas não estão fáceis... Onde resido (no RS) - longe do ideal; e cada vez pior. Descobri o site pelo tal 'bullying'/sei como é tal coisa _ pois passei quando morava no RJ, onde nasci: e de 30 anos para cá as coisas mudaram e como. E isso de "violência de pais contra filhos" parece aumentar. Tais atrocidades existem desde que o mundo é mundo. Infelizmente.
1 comentários