Pedagoga, bacharel em direito, gestora pública, mãe três vezes, Avó, mulher e ainda vencedora de quatro tipos de cânceres. Essa é a batalha de Ana Paula Faria de 41 anos que foi diagnosticada com a doença pela primeira vez em 2013.
Hoje, após se tornar um exemplo de vida para as pessoas que veem o sorriso no rosto de Ana Paula e as palavras de conforto que ela transmite, a reportagem do HiperNotícias decidiu contar a história de vida dessa mulher, justamente na data que é comemorado o Dia das Mães. Além da força natural por ser mãe, Ana acabou servindo de conselheira para outras mulheres que enfrentam diversos tipos de doenças e até mesmo agressões dentro de casa.
Voltando para novembro de 2015, em um dia comum de trabalho com cinema na comunidade do Pedra 90, Ana Paula atendia e alegrava a criançada como faz de costume. Mas, ao pegar uma cadeira nas mãos ela sentiu como se tivesse levado uma paulada dentro dos ossos e devido à permanência da dor forte procurou ajuda médica.
O primeiro recurso foi buscado em um ortopedista. Mas, de cara o médico informou que o caso dela não era com ele. Então, encaminhou a paciente para o ginecologista que já havia tratado e retirado o útero de Ana Paula por causa de indícios de câncer.
Mas, o ginecologista sem fazer exame algum percebeu que a situação era séria e a mulher foi encaminhada para o mastologista (especialidade médica responsável por prevenir, diagnosticar e tratar as doenças benignas e malignas da mama).
“Em 30 dias me encaminhou para o cirurgião que também já fez o exame de Raios-X e apareceu um nódulo bem grande. Fiz a primeira cirurgia e tirei parte do nódulo. Já na segunda todo o nódulo foi retirado mas o carcinoma invasivo de terceiro grau b já estava em estava avançado", contou.
O tratamento precisou iniciar com a quimioterapia vermelha, que apesar de ser em quantidade menor ela age para envenenar e matar a raiz do câncer. Fora os tratamentos agressivos, Ana Paula também precisou frequentar terapias com psicóloga e ajuda com assistente social. Porém, mesmo com a orientação médica a paciente decidiu não parar com a rotina.
“Tentei conciliar emprego com minha rotina no hospital porque cada pessoa reage de uma forma. A gente sente febre, náusea, vômito, não come, não aguenta sentir cheiro de perfume, porém até com pelo menos 15 dias a gente está apta para voltar aos trabalhos”, detalhou.
Nesses quatro anos de tratamento, já foram 35 sessões se radioterapia diária pulando apenas os sábados e domingos. Três cirurgias da mama do lado esquerda, diversas baterias de exames, ultrassons de cada órgãos para fiscalizar por dentro. Porém, Ana Paula contou que jamais pegou um minuto do seu tempo para chorar, lamentar com Deus porque da situação ou ficar sem vontade de viver.
“Jesus foi crucificado, morto e ressuscitou. Passou por tantas coisas. E porque eu, uma simples mortal, vou ficar indagando Deus por minhas dificuldades. Acredito que Ele dá a luta para as pessoas que Ele vê que vai superar”, argumentou.
O câncer mais agressivo que Ana Paula superou foi das mamas. Mas, antes disso ela já tinha sido diagnosticada com um possível problema na tireoide, útero e fígado.
“Acredito que quando começou na tireoide eu não dei a atenção necessária. Não levei a sério e a situação complicou. A gente fica tão preocupada em trabalhar para cuidar e sustentar os filhos que a gente se esquece de nós mesmos. Acho que essa lição de vida até para as mães é que nós precisamos cuidar de nós para ter mais qualidade de vida para cuidar dos filhos. Agora, todo mundo fica desesperada com a situação, mas eu tento manter a calma”.
Ana Paula tem um filho de 21 anos e duas meninas gêmeas de 17. Uma delas já casou e teve o Enzo, que agora completou oito meses. Na entrevista, Ana contou que ele veio para ser a vitamina para ela continuar a viver.
“Eu temia não ser vó. Tinha pânico e pedia: Senhor, me da mais força. Não consegui chorar, ficar triste e revoltada. Apenas confiava, acho que vó é mãe duas vezes”, sorriu.
Além do neto, Ana Paula também acredita que o trabalho que desenvolve na Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp) e as ações sociais com escolas, famílias e orientações preventivas de auto-estima e abusos ajudam ela continuar de pé.
“Faço tudo. Limpo casa, faço comida, lavo e passo roupas. Mas, antigamente eu era metralhadora. Hoje sou revólver enferrujado. Faço tudo muito devagar porque canso rápido. Só que se fizesse apenas isso não me sentiria bem porque faria o bem apenas para mim e não ao próximo”.
Sente falta da rotina
Uma das coisas que mantinha na rotina e que agora sente falta seria voltar a dormir com os idosos no hospital, ser acompanhante de pacientes, trocar fraldas e fazer curativos nos asilos. Todas essas ações foram proibidas por causa da imunidade que já não é a mesma.
“tinha ritmo de vida melhor. No entanto, hoje eu já sou um milagre. Todas as pessoas que começaram comigo não estão mais aqui. Fiz círculo de amigos e fiquei triste demais pela morte delas. Sentavam juntas nas terapias e quimioterapias, escutávamos músicas para sentir menos dor, contava piada e ainda trocávamos receitas dos remédios. Agora, tudo isso ficou na lembrança”, lamentou.
Pedido do Dia das Mães
Indagada sobre o que queria ganhar no Dia das Mães, Ana Paula disse que fez um pedido para Deus. “Que nenhuma outra mulher tivesse câncer, pois sacrificaria minha vida para que nenhuma outra pessoa passasse pela dor que enfrento”.
"Mas, isso não significa que pedi a morte. Pelo contrário, reconheço a vida que Deus me deu. Único medo que tenho é como meus filhos ficarão sem mim. Só que acredito que as minhas ações realizadas outras pessoas lembrarão que eles são meus filhos e os ajudarão”, finalizou.
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