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Cidades Domingo, 08 de Julho de 2018, 17:30 - A | A

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Domingo, 08 de Julho de 2018, 17h:30 - A | A

20 ANOS DA CHACINA DO BECO DO CANDEEIRO

“É uma dor que não passa, que não tem remédio”, declara mãe de menor assassinado

JULIANA ALVES - ESPECIAL PARA O HIPERNOTÍCIAS

“Não gosto nem de falar muito, porque é só sofrimento. Você sabe que uma mãe perder um filho, não é fácil né?", se emociona Maria dos Santos, 69 anos, mãe de uma das vítimas da chacina do Beco do Candeeiro. A tragédia completa 20 anos e um ato será realizado em torno da estátua de três meninos, representando as vítimas, na Praça Senhor dos Passos, no dia 10 de julho.

 

Reprodução

chacina beco do candeeiro

 Cena do crime

"Ainda quando perde de um jeito diferente, se ficar doente a gente cuidar e não tiver jeito, morre a gente sabe que não conseguiu. Mas assim do jeito que foi a vida dele, tirada assim, cruelmente igual foi feito, na crueldade, a gente sofre muito”, lamenta a mãe de Edileu Santos de Araújo,que completaria 33 anos.

 

No dia 10 de julho de 1998, os adolescentes Adileu Santos de Araújo, 13 anos, Edgar Rodrigues de Arruda, 15 anos e Reginaldo Dias Magalhães, 16 anos, foram assassinados no Beco do Candeeiro. A acusação do crime recaiu sobre a polícia, porém o militar apontado como autor do triplo homicídio foi absolvido por falta de provas. Passadas duas décadas, as mães sofrem a perda e pedem por justiça.

 

Maria tem 69 anos e é mãe de cinco filhos, incluindo a vítima mais nova da chacina. Ela conta que o adolescente morava com ela, em Cáceres (distante 219 km de Cuiabá). A escola entrou em recesso por um semana e a Adileu pediu para ficar na Capital com os irmãos nesse período. Durante a visita a Cuiabá ele foi assassinado. 

 

Outra mãe que compartilha, há duas décadas, a dor pela falta do filho também sendida por Maria é Albina Rodrigues de Arruda, 58 anos. Seu filho tinha apenas 15 anos quando foi assassinado. No sábado, 11 de julho de 1998, ela estava assistindo um programa policial local, quando foi noticiado a chacina. A reportagem mostrava os corpos cobertos, mas ela reconheceu o filho pelos pés. Edgar era o quarto dos cinco filhos.

 

“Antes dele entrar no vício das drogas, era um menino bom. Gostava de estudar, nunca deu trabalho, era um menino do bem, era amigo de todo mundo. Infelizmente, meu filho foi vitima duas vezes! Foi vítima de quem o incentivou a usar drogas e de quem tirou a vida dele, ele perdeu a vida drasticamente”. 

 

Ela conta, entre lágrimas, que seu filho começou a usar drogas cerca de oito meses antes da chacina. Sem controle sobre o próprio filho, ela buscou ajuda do poder público para tentar reverter a situação, mas não foi atendida. Nessa época o menino já estava morando na rua. 

 

Albina lembra que procurou o Conselho Tutelar, na época, pedindo socorro várias vezes e procurando saber para onde o filho poderia ir, mas só se deparou com o descaso. Responderam que havia uma escola para dependentes químicos no interior do estado e que a mensalidade era R$ 700.

 

“Era como se falassem ‘não tem jeito, então vou falar isso que ai você desencana da gente’. Ai eu te pergunto, se eu tivesse condições financeiras de pagar uma escola no valor de R$ 700, eu estaria indo em um órgão do governo pedindo ajuda, pedindo socorro? Eu iria procurar o melhor lugar para colocar o meu filho”, desabafa.

 

Desesperada, a mãe recorreu à Justiça para que seu filho fosse internado em um Centro Socioeducativo, mas disseram que,  como ele não havia cometido crimes mais graves como assassinato, estupro ou assaltos, não podia ser encaminhado. “Ele era usuário de drogas e ele tinha que querer tratamento, ninguém poderia obrigar. Ai eu te pergunto se uma pessoa que está na sarjeta, vai querer sair de lá?”. 

Alan Cosme/HiperNoticias

projeto hip hop contra as drogas

 

 

Muito emocionada, ela desabafa sobre a sua dor. “Vou falar para você, eu não desejo o que eu passei com o meu filho nem para um animal qualquer, um animal selvagem, eu não desejo... Por que eu não dormia, eu começava a dormir e acordava com choro, gritos, tiros... Eu trabalha no centro e não podia ouvir barulho de ambulância que para mim era ele, não podia ouvir barulho de fogos, eu não podia ver carro de bombeiro, carro de polícia, ouvir sirene da polícia, para mim era ele... É muito difícil, dói muito, dói muito, dói muito... É como se eu tivesse vivendo tudo hoje, agora...”

 

Em 2014, 16 anos depois da chacina, o policial acusado de ter cometido o crime foi absolvido. Maria pede e acredita na Justiça. “Na verdade quem matou o meu filho foi a polícia e a gente espera que uma hora a justiça aconteça”. Aos prantos a mãe diz que o sofrimento pela perda é permanente. “É uma dor que não passa, que não tem remédio”.

 

Ao contrário de Maria, Albina se mostra descrente no poder público para que seja feita a justiça. “Eu me sinto assim, sabe você sentir um nada? Por eu não ter condições de pagar um detetive, um bom advogado... O meu maior sentimento é esse... Talvez se fosse um cachorro de um doutor, de raça, talvez já teria sido descoberto a pessoa que matou ou quem mandou, entendeu?”, declara.

 

O Crime

Os três adolescentes foram executados com tiros na rua 27 de dezembro, também conhecida como Beco do Candeeiro, em Cuiabá.

 

O crime aconteceu por volta das 20h e o assassino usou uma pistola para atirar em quatro adolescentes. Um deles conseguiu fugir e um policial militar foi considerado o principal suspeito. 

 

Passados 16 anos desde que ocorreu a chacina, a Justiça absolveu o policial aposentado, Adeir de Souza Guedes Filho. O militar foi reconhecido pelo rapaz que conseguiu fugir no momento do crime, porém oa jurados do júri popular consideraram que não havia provas suficientes para condená-lo.

 

Ato em memória dos 20 anos da Chacina do Beco do Candeeiro

Após todo esse período do crime continuando sem solução, é organizado o ato juntamente com o projeto “Psicanálise na Rua” da Universidade Federal de Mato Grosso. E além de relembrar a chacina, o ato irá realizar intervenções junto às pessoas em situação de rua e terá apresentações artístico-culturais.

 

“Será uma noite de celebração à vida. Uma noite para todos os Babies, Indinhos e Nados (apelido das vítimas) que sofrem com a invisibilidade social e descaso do poder público”, diz o o convite para evento, nas redes sociais.

 

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Carlos Nunes 08/07/2018

Pois é, 20 anos depois...o negócio piorou pra burro. Outro dia um comentarista policial do Jornal da RedeTV disse: antigamente só tinha 1 facção criminosa, atualmente tem 87 facções. Significa que tem um bando de traficantes loucos pra adotar o filho de alguém...e, infelizmente, vai adotar, e a família será a última a saber. Vão adotar pra encher o bolso com o maldito dinheiro da droga. Agora adivinhem: Qual é o candidato a presidente da república que os chefões do tráfico não querem que seja eleito de jeito nenhum? Começa com BOLSO e termina com NARO. Esse vai ser uma pedra enorme no sapato dos chefões do tráfico...com ele o negócio vai apertar, apertar. Senão apertar, muitas gerações vão tombar, abatidas pelas drogas, como o filho dessa senhora humilde. Crianças como essa são "adotadas" pelos traficantes todos os dias, nesse brasilzão. Em cada cidade brasileira, em cada bairro, tem um porção de bocas de fumo...virou igual cabeça de Hidra, corta uma, aparecem duas, cortam duas, aparecem quatro.

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