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Cuiabanália Domingo, 26 de Março de 2017, 14:06 - A | A

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Domingo, 26 de Março de 2017, 14h:06 - A | A

NÃO VAI ACABAR

"De criança a barbudo. Mesmo com celular em alta, soltar pipa é brincadeira universal”, diz Zé da Pipa

CAMILLA ZENI

Quem acha que apenas de jogos eletrônicos se divertem os jovens está bem enganado. Em Cuiabá, uma brincadeira antiga ainda resiste forte aos avanços tecnológicos: a pipa. É uma diversão barata, basta apenas vento e disposição. Mais popular em bairros periféricos por ser feito na rua e precisar de espaço, soltar pipa é uma brincadeira antiga, e, ao contrário do que se pensa, não tem apenas as crianças como público alvo. “Todo mundo solta pipa. Acho que a pipa é universal”, defendeu o artesão José Butakka Filho.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

ze da pipa

Zé da Pipa decidiu entrar no ramo após conquistar aposentadoria

Conhecido como Zé da Pipa, o homem foi o primeiro comerciante especializado em pipas da Capital, abrindo sua loja em 2014. “Soltar pipa, desde criança eu solto”, contou. A venda do objeto antes disso, porém, era informal, para alguns amigos.

 

“Eu comecei a vender quando eu mudei pro CPA, há 30 anos. Eu fazia a pipa pra ficar soltando, mas eram dez, oito pipas. Aí os colegas que iam com a gente começavam com ‘me dá uma? Me dá uma?’. Então eu falei: ‘Eu fico fazendo pipa e vocês ficam pendido? Não está certo isso. Eu vou vender’, e eles falaram ‘então faz ai que eu compro’. Então comecei a vender”, lembrou seu Zé.

 

Na época, Zé já tinha seus 33 anos, trabalhava como desenhista e sustentava a família. Ainda assim, sempre reservou um espaço na rotina para soltar pipa.  Para a diversão se tornar profissão e sustento oficialmente, no entanto, levou alguns anos.

 

Zé da Pipa se tornou concursado pela Prefeitura de Cuiabá, onde foi gerente até meados de 2014, quando se aposentou. Pouco antes da aposentadoria, Zé começou a se preocupar com o tempo ocioso que teria pela frente e procurou uma forma de ocupa-lo.

  

“Faltando um mês, mais ou menos, eu pensei: vou montar um negócio. Eu vou aposentar, ficar em casa sem fazer nada, e eu ainda aguento fazer alguma coisa. Vou montar um negócio de pipa”, lembrou o comerciante.

 

A preocupação da família com a decisão de Zé foi eminente. “Lá em casa quase ninguém acreditou”, revelou. Será que valeria a pena investir em pipa nos tempos de hoje?

 

Apostando na ideia, Zé da Pipa começou com o negócio empreendedor ainda em casa, montando as pipas e as deixando à mostra na calçada. “Tenho até hoje o tripé de microfone que eu colocava no portão de casa pra pendurar as pipas”, revelou o comerciante, apontando para o instrumento que o acompanha também na nova loja.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

ze da pipa

Loja "Brinquedos Criativos" é tradicional no bairro CPA 4, em Cuiabá

Aliás, a ideia de abrir uma loja em outro ambiente foi resultado da alta procura pelo material. “Não deu mais, porque era muita gurizada”, contou. Segundo ele, a demanda era tanta que ele já não dava conta de produzir as pipas. “Eu não aguentava mais fazer e mandava comprar pronta. Descobri um cara em São Paulo e mandei buscar pipa lá. Gostei da qualidade, porque a pipa dele era igual a que eu fazia”, explicou Zé.

 

Naquele tempo, Zé da Pipa chegava a vender entre 700 e 800 pipas por dia, o que surpreendeu a ele e aos familiares. Por ser a única loja de pipas da cidade, a Brinquedos Criativos recebia gente de todos os cantos, procurando não apenas a pipa, propriamente, mas diversos objetos que a compõe. “Toda a Cuiabá vinha aqui. Pedra 90, Osmar Cabral, lá pro lado de Várzea Grande, lotava aqui no fim de semana”, lembrou o comerciante.

 

Uma filial da loja chegou a ser aberta no bairro Santa Isabel, na tentativa de facilitar para os compradores, mas logo fechou. “Quem tocava era meu filho, mas ele não dava mais conta de ficar lá. E pra você mexer com uma coisa você tem que entender. Então, não adianta contratar qualquer pessoa”, comentou Zé da Pipa, responsável por toda a parte de produção das pipas. “Eu sei fazer tudo, monto a pipa em um minuto”.

 

A loja Zé da Pipa – Brinquedos Criativos permanece ainda no CPA 4, local de origem, em um espaço alugado. O nome da loja é para abranger a tudo o que se vende no interior. Além da pipa, o empreendedor aposta em diversos jogos antigos, como peão, biboquê, peteca, cubo mágico, bolita e ioiô, para resgatar a vivência e o sentimento de infância nos clientes.

 

Apesar da variedade oferecida, não houve dúvidas para a resposta, quando a pergunta foi “qual é o objeto que o senhor mais vende?”. A pipa, respondeu seu Zé. “Eu tentei oferecer os outros, pergunto se não querem bolita, peão, mas eles querem mesmo é a pipa”.

 

Com diversos modelos de pipa, carretilha, linhas e rabeiras, ofertados em diferentes cores e formatos, o empreendimento mantém o interesse dos clientes, que variam entre “crianças e barbudos”.  

 

“Às vezes chega uma pessoa aqui com uma criança, escolhe um monte de coisa, tudo da melhor qualidade. A gente sabe que não é pra criança brincar”, comentou Zé. Segundo ele, as crianças não se importam tanto com os detalhes e “só querem saber de torar e aparar”.

 

Os adultos também são públicos fieis de soltar pipa, mas levam a brincadeira a um patamar mais sério. “Os pipeiros da região organizam campeonatos. A gente vai no campo e solta lá”, comentou Zé.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

ze da pipa

 

Em 2016, Zé da Pipa ganhou em 1º lugar na categoria de Menor Pipa e 2º por Equipe de Trio no Festival JK Pipa, e 2º lugar por Equipe de Trio no 1º Combate entre lojistas. “A gente não compete pra ganhar prêmio”, explicou o comerciante. “É a visibilidade, a satisfação de ser reconhecido, das pessoas saberem quem é você”.

 

O alto interesse na brincadeira, no entanto, já não é tão rentável quanto foi no início. “As coisas que eu tenho hoje foram quase tudo através de pipa. Só que hoje já não dá mais”, admitiu o comerciante. Segundo ele, a média mensal de venda da pipa atualmente é entre duas e três mil unidades. A concorrência seria o principal motivo.

 

“O pessoal cresceu o olho. Hoje em dia todo tipo de gente está vendendo pipa”, comentou. “Já abriu muita concorrência. Tem uma no Panalto, no Três barras, no Doutor Fábio. Então foi arrodeando de loja aqui”. Com o auxílio de um colega, Zé da Pipa já identificou cerca de 56 lojas de pipa na Capital.

 

Para o comerciante, montar uma loja de pipa não compensa mais, uma vez que o mercado já conta até mesmo com fornecedor e lojas por atacado. “Tem que ser por gosto, porque por dinheiro não dá mais”, comentou.

 

Apesar disso, Zé da Pipa segue forte no ramo, e acredita que a brincadeira não deve desaparecer diante dos avanços tecnológicos.

 

“Tem pipa toda hora. A criançada vai pra escola de manhã e solta pipa a tarde, ou o contrário. Agora porque é tempo de chuva e tem pouca gente empinando, mas nas outras épocas é lotado. Você olha pro céu e só tem pipa”.

 

 

Alan Cosme/HiperNoticias

ze da pipa

 

Segundo ele, “Os jogos eletrônicos tem horário: são de manhã e à noite. A tarde é da pipa”, observou o comerciante. Ele liga a continuidade da brincadeira ao sentimento de tradição e, por isso, a pipa deve continuar por muito tempo. “A procura só aumenta cada vez mais. Você passa aqui no CPA 16h e só tem pipa. Quatro horas da tarde é horário de pipa, é tradição”.

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