Com uma furadeira, serra tico tico e circular, o artesão Eraldo Fauth realiza há 30 anos "o sonho da casa própria infantil". A ideia de fazer as pequenas residências criativas começou com o pai dele, que não tinha condições de comprar os brinquedos naquela época para as suas três filhas.
Alan Cosme/HiperNoticias
Casinha de boneca miniatura custa R$ 300. Cliente tem opções em diversos modelos
Eraldo lembra que na sua infância a única diversão que existia era correr e pular com os 10 irmãos. E as meninas eram as que mais sofriam, porque nem sempre as brincadeiras que participavam as agradavam.
Morando no interior do Paraná, o pai resolveu levantar um barracão no fundo de casa para fazer uma fábrica de brinquedo. No ferro velho de Santa Catarina, ele conseguiu pequenas máquinas que facilitavam o corte de compensados.
Daí então surgiu a ideia de fabricar pequenos móveis para as filhas. Todos ficaram empolgados porque a fantasia de ‘indústria de mobília infantil’ virou o passatempo de 10 irmãos.
“Com a brincadeira acabou que todos cresceram fazendo brinquedo. A ideia era ótima porque a fabricação já era uma terapia infantil e, vendo o resultado final, a satisfação ainda era maior porque a gente podia presentear as irmãs”, lembrou.
O brinquedo chamou a atenção da vizinhança, que iniciou os pedidos. Eraldo, em parceria com os irmãos, atendeu diversas encomendas. Mas até então, não sabia que o gosto pela arte acabaria, de fato, virando negócio de sustento para sua família no futuro. O passatempo se tornou profissão.
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Para realizar o desejo da casinha própria e ainda com a mobília instalada, vai mais de R$ 2 mil
“Depois de certa idade, cada um deles procurou seu rumo. E, eu acabei seguindo o ramo da família, mesmo depois de tentar outras profissões. A arte de fazer brinquedos apenas com as mãos permaneceu no sangue”, contou.
Quando chegou em Cuiabá, já casado, ele trabalhou como motorista de uma transportadora. Mas, uma colega da sua esposa, que soube da arte, pediu para o artesão fazer uma casinha de boneca para a filha dela. Porém, devido ao valor final do produto, a peça acabou ficando de exposição para serviços futuros.
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Artista relembra projetos criados através de pedidos ao longo dos 30 anos
Depois de fazer o primeiro trabalho, o artesão contou que a ideia de criança clareou novamente na mente adulta. “Pensei podia fazer brinquedo de novo. E comecei naturalmente sem força muito a barra. E, após a primeira casinha passei a fazer outros brinquedos como avião, carrinhos, objetos decorativos, brinquedoteca, prateleiras, estantes de livros e baús”, contou.
Passo a Passo
O trabalho começa na hora de escolher a placa de compensado. As mãos hábeis no trato com o compensado vão juntando as peças. As janelas, escadas e pavimentos tomam forma ao longo de uma semana.
Depois da encomenda, o artista desenha e faz o recorte todo manual. O material escolhido tem uma justifica: “As mães podem passar pano para limpar a poeira. O MDF não aguentaria uma semana porque as crianças derramam tudo”, brincou.
Para realizar o desejo de brincar de casinha dentro de "uma casa própria de verdade" mobiliada, é preciso investir um pouco mais de R$ 2 mil. Porém, se a proprietária mirim uma opção mais simples do lar ideal, o preço final cai para R$ 1.700.
“Divido em até quatro vezes o valor. Mas, as casinhas de bonecas menores costumam ser mais baratas. Não ficam mais que R$ 300”, detalhou.
Apesar da grande procura pela tecnologia, Eraldo comentou que tem o público fiel. A faixa etária varia entre três e cinco anos. A partir dessa idade, os pequenos já preferem os produtos eletrônicos.
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Peças foram construídas ao longo de uma semana com apenas uma furadeira, serra tico tico e circular
Inspiração
Segundo o artesão, a principal inspiração que ele carrega nesses 30 anos é ver o olho da criança brilhando quando recebe o produto. “A primeira coisa que elas fazem ao entrar na casa é fechar a porta, pois se sente dona. E, depois os olhos brilham com um lindo sorriso”, se orgulha.
Além de produzir as peças únicas, Eraldo também fabrica mesinhas, cadeiras e móveis mirins. Um dos modelos que carrega em seu mostruário é a cidade mirim da antiga Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (SMTU). O projeto fazia parte da Educação no Trânsito e foi instalada na Escola Municipal Darcy Ribeiro.
“Tudo que envolve criança para mim é uma terapia. Já fui Papai Noel de Mato Grosso. E deixo a barba crescer porque sou um dos sacerdotes do Autos da Paixão. Está no coração, além de ajudar na construção da casa própria é um hobby construir as casinhas e ainda garantir o sustento da minha família”, concluiu.
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