Terça-feira, 16 de Abril de 2024
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png
dolar R$ 5,18
euro R$ 5,51
libra R$ 5,51

00:00:00

image
ae7b65557f584ffa666eb2a35ce5142f.png
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png

00:00:00

image
dolar R$ 5,18
euro R$ 5,51
libra R$ 5,51

Artigos Sábado, 16 de Março de 2019, 12:23 - A | A

facebook instagram twitter youtube whatsapp

Sábado, 16 de Março de 2019, 12h:23 - A | A

Alimento dos sentidos

A percepção da influência do mundo sensorial sobre o nosso corpo, sobre nossas emoções, sobre o nosso estado de espírito transitório ou permanente, tem íntima relação com as informações que recebemos do mundo exterior.

PAULO WAGNER*

Arquivo Pessoal

Paulo Wagner

 

 

A um tempo atrás fui assistir ao filme de um super-herói e sua filha mutante. Produção hollywoodiana de alto custo, recheada de efeitos especiais e ovacionada como o thriller do momento. Claro que um filme assim tem os elementos que o caracterizam: cenas de suspense, explosões, perseguições mirabolantes e muito sangue e pancadaria com um nível espetacular de produção. Mas confesso que, apesar da expectativa e previsão do que vinha pela frente ao me sentar na cadeira do cinema, fiquei estarrecido com a crueza e o “realismo” das cenas de violência mostradas no filme. Como se algo indigesto, áspero e corrosivo tivesse invadido numa velocidade espantosa meus sentidos.

O filme mostrava um super-herói decadente, soturno e autodestrutivo, com a capacidade e a empatia de envolver o expectador em seu estado de angústia e falta de saída. A banalização das sequências de assassinatos com requintes de crueldade, decapitações, garras afiadas transpassando corpos e perfurando crânios, entre outras atrocidades praticadas por personagens frios e sortidos, me fez pensar que tudo aquilo que estava assistindo, ficaria guardado em algum lugar da memória. E que uma legião de pessoas estavam se alimentando ou haviam se alimentado com aquelas imagens nas salas de cinema do mundo, onde o filme era exibido simultaneamente.

"A percepção da influência do mundo sensorial sobre o nosso corpo, sobre nossas emoções, sobre o nosso estado de espírito transitório ou permanente, tem íntima relação com as informações que recebemos do mundo exterior"

A sensação provocada por aquelas imagens e sons absorvidos no cinema me trouxeram a certeza que impressões sensoriais são nutrientes. Consumimos de alguma forma alimentos a partir do que vemos, ouvimos e sentimos em nosso corpo. Como se um filme, série, novela ou um telejornal fosse um tipo de comida, recheada ou não de toxinas para nossa consciência.

É fácil constatar que em grande parte das produções midiáticas há uma predominância de informações sensoriais carregadas de medo, estresse, desespero, intrigas e tragédias. Informações com a capacidade de criar um clima coletivo de insegurança, aonde predominam os aspectos negativos das ações humanas. Como se as coisas boas, virtuosas, construtivas, solidárias e alegres não estivessem tão intensamente presentes na vida social, humana e natural do planeta.

Até que ponto informações sensoriais influenciam o estado de espírito individual e coletivo das pessoas? Por exemplo, sabemos por meio dos estudos de musicoterapia que os dos sons têm o poder de curar traumas, depressão, insônia e uma série de doenças. Na França, a aromaterapia é uma ciência tradicional estudada e ensinada em prestigiadas universidades, que  ensinam o poder medicinal dos óleos essenciais extraídos de flores, plantas e de outros elementos da natureza.

A percepção da influência do mundo sensorial sobre o nosso corpo, sobre nossas emoções, sobre o nosso estado de espírito transitório ou permanente, tem íntima relação com as informações que recebemos do mundo exterior. Por isso. precisamos ter consciência plena para saber guardar as portas dos sentidos contra as formas negativas de alimentos sensoriais que circulam de forma invasiva no nosso dia a dia, quando dirigimos, ouvimos o som do carro, olhamos o anúncio do outdoor, as informações enviadas nos aplicativos das redes sociais.  

Depois que assisti àquele filme fiquei mais seletivo no tipo de alimento que escolho para deglutir e alimentar meus sentidos e minha memória. Como um peixe que descobriu que por traz da isca apetitosa das formas sensoriais pode estar oculto o gancho sutil do anzol que pode aprisioná-lo  pela boca.

(*) PAULO WAGNER é Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos de Linguagem pela UFMT e escreve para HiperNotícias aos sábados. E-mail: [email protected]

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.

Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.

Siga-nos no TWITTER e acompanhe as notícias em primeira mão.

Comente esta notícia

Algo errado nesta matéria ?

Use este espaço apenas para a comunicação de erros